Histórias PositHIVas

Rosinea da Rosa

03.02.2017 - 17:43
04.11.2022 - 10:38

[node:title]Rosinea da Rosa nasceu em 1972, na cidade de Alvorada, região metropolitana de Porto Alegre (RS). Ainda hoje vive lá. É virginiana; ativista; fala com as delicadas mãos; tem os fartos cabelos lisos sempre presos num rabo de cavalo; e está oficialmente desempregada. (Até 2009, foi auxiliar de limpeza de uma companhia aérea, mas a osteoporose precoce que acomete seus joelhos dói muito – “bah, nem me fale” – e a impede de trabalhar.)

Ainda assim a história de Rosinea é feliz.

A infância em Alvorada foi tipicamente tranquila – mas a jovem Rosinea casou-se muito cedo e tornou-se mãe de uma menina aos 23. O casamento durou apenas dois anos. (O ex-marido tem sido ao menos “um pai presente” para a filha Débora, hoje com 20.)

Então, novamente solteira e ainda muito jovem, Rosinea passou a procurar diversão – “mas sempre fui recatada”. Um dia, conheceu alguém e o relacionamento logo se aprofundou. Ele era misterioso: às vezes, “sumia do mundo”, diz Rosinea. O mistério era ainda maior do que ela imaginava: repentinamente, o namorado a surpreendeu com uma revelação bombástica: ele tinha HIV. Assustada, ela correu para se testar e – sim, de forma inexorável – descobriu-se também soropositiva. “E aí o mundo acabou”, diz. O ano era 2004.

“Eu fiquei muito brava”, ela diz – mas, ainda assim, apaixonada e muito vulnerável, manteve o relacionamento. Por um tempo. Logo percebeu que, além dela, o namorado tinha uma ex-mulher e outra atual (que acabara de engravidar). Assim, a relação que mudou a vida de Rosinea para sempre durou três anos e acabou. “Fiquei em depressão total: era cigarro, café e computador o dia inteiro”, ela conta, apertando as mãos ao se lembrar do momento escuro.

Por oito longos anos, o HIV parecia adormecido no organismo de Rosinea. Ela relutava em aceitar sua sorologia, mas fazia exames regulares para avaliar a contagem de células CD4. (As células CD4 são as mais importantes do sistema imunológico, que protege o organismo contra infecções e doenças. A sua contagem revela quantas células desse tipo estão presentes em uma única gota de sangue; quanto maior o número de células CD4 no organismo, melhor.)

Em 2012, a imunidade de Rosinea caiu. Mesmo sem adoecer, ela procurou ajuda. Iniciado em 2013, o tratamento antirretroviral a trouxe, três anos depois, à carga viral plenamente indetectável. (A propósito: carga viral indetectável é a condição de uma pessoa soropositiva que atingiu a supressão do vírus como resultado do uso consistente de medicamentos antirretrovirais. Quem tem carga viral indetectável não está curado do HIV, mas, enquanto mantiver o tratamento antirretroviral, tem o vírus controlado e preso em certas células do organismo – sem se multiplicar, sem danificar o organismo e sem ser transmissível.) Quando iniciou o tratamento, Rosinea muniu-se de coragem para contar o que estava acontecendo à filha adolescente. “Ela me abraçou forte e disse: ‘vamos juntas, mãe’”, conta. À mãe idosa, não quis contar: “Ela se preocupa demais comigo”.

Hoje, Rosinea sorri. “Estou bem boa, agora”, brinca. Ela está namorando; ele também é soropositivo; juntos, vivem uma relação de amor e cumplicidade. (Tudo começou quando Rosinea entrou em um grupo de relacionamento, no WhatsApp, de pessoas heterossexuais soropositivas. “Mas a gente fala de tudo, menos de HIV”, confidencia.) Ainda assim – apesar da relação soroigual, quando ambos os parceiros têm HIV –, Rosinea e o namorado cuidam um do outro para evitar a reinfecção: “Sexo, só com preservativo feminino ou masculino”.

(No Brasil, o Sistema Único de Saúde coloca à disposição uma série de alternativas para a prevenção ao HIV, por meio da chamada “prevenção combinada” – que inclui, além do uso dos preservativos masculino e feminino, a adesão da pessoa soropositiva ao tratamento antirretroviral, rumo à carga viral indetectável. Essas medidas preservam a saúde do portador e não oferecem risco para o parceiro sorodiferente, que não tem HIV.)

Agora, Rosinea sabe muito sobre prevenção e tratamento do HIV – e se dedica ao ativismo no Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas (MNCP), que também a sustenta. (Fundada em 2005, a organização não governamental atua como rede em defesa dos direitos de mulheres vivendo com HIV/aids – formando-as nas temáticas de direitos humanos, estigma e discriminação, saúde sexual e saúde reprodutiva e controle social de políticas públicas e promovendo o seu fortalecimento individual e coletivo, entre muitas outras ações.) “Se melhorar, estraga”, diz Rosinea, ainda sorrindo.

 

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Típo da notícia: Notícias do DCCI