Pesquisador Jean Michel Molina fala sobre a PrEP na França e no Brasil
O pesquisador e professor francês concedeu entrevista durante o 24º Seminário Brasil-França
Jean Michel Molina é pesquisador e professor de Doenças Infecciosas da Universidade de Paris e Chefe do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Saint-Louis, da França, e concedeu entrevista ao Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (SVS-MS) sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), durante a realização do 24º Seminário Brasil-França, ocorrido no Rio de Janeiro nos dias 13 e 14 de novembro.
Molina é o responsável por uma das principais pesquisas de PrEP no mundo, o estudo “Ipergay”, realizado na França e no Canadá, que avaliou a eficácia e efetividade da chamada PrEP “sob demanda”, ou seja, quando o usuário toma o medicamento de acordo com os eventos sexuais e não de forma contínua.
A PrEP consiste no uso preventivo dos medicamentos tenofovir e entricitabina, combinados num único comprimido. A nova medicação antirretroviral só pode ser usada por pessoa que não seja portadora do vírus HIV. É um comprimido de uso diário.
DCCI - Sobre a PrEP, o senhor já tem resultados sobre os quais possa falar a respeito?
Jean Michel Molina - Implementamos a PrEP na França em janeiro de 2016, ou seja, há quase dois anos, e eu diria que, como primeiros resultados, estamos observando muito poucas novas infecções pelo HIV entre as pessoas em uso de PrEP. Portanto, a eficácia da PrEP na vida real foi comprovada e os resultados dos estudos triangulares foram novamente confirmados na implementação da PrEP na França. Assim, a PrEP em larga escala é muito efetiva, e esperamos agora que essa implementação conduza a um declínio nas novas infecções. É o que prevemos para os próximos anos com essa profilaxia.
Como vê a implementação da PrEP no Brasil?
É muito bom ver que o Brasil, um dos primeiros países do mundo a iniciar ensaios clínicos em PrEP, com o estudo iPrEx, está adotando a implementação da PrEP em larga escala em um país tão grande. Nesse sentido, é importante direcionar a PrEP para os indivíduos em alto risco. Por isso, penso que o desafio é informar as pessoas em risco de que a PrEP está disponível no Brasil, para que elas possam pedir ao médico para iniciar essa profilaxia. Creio também que outro desafio será capacitar e promover o conhecimento sobre a PrEP entre os médicos que irão monitorar as pessoas em PrEP. Assim, é importante, em primeiro lugar, dizer às pessoas em risco que o Brasil lançou um programa nacional de PrEP e, em segundo lugar, pedir aos médicos e profissionais de saúde que se atualizem sobre a PrEP, de modo que a conheçam e que sejam capazes de responder às questões de seus pacientes sobre a profilaxia.
Como é a aceitação da PrEP na França?
A PrEP é uma nova ferramenta para a prevenção do HIV. É muito recente. Por isso, primeiramente as pessoas têm de conhecê-la e se acostumar com o uso da PrEP. O que posso dizer é que, entre as pessoas que iniciaram a profilaxia, a grande maioria, após quase dois anos, permanece em PrEP – mais de 85% – o que significa que se sentem bem com a PrEP, podem viver com ela e podem usá-la como uma nova ferramenta para a prevenção do HIV. Portanto, as pessoas estão muito satisfeitas com a PrEP e com o que ela proporciona. Os programas de PrEP não apenas previnem a infecção pelo HIV, mas também são um incentivo para que as pessoas se testem regularmente para o HIV e para as outras infeções sexualmente transmissíveis, que recebam cuidado em relação ao chemsex, etc., ou seja: a PrEP representa uma oferta de cuidado sexual abrangente.
O que o senhor acha da Prevenção Combinada no Brasil e do fato de que a PrEP foi o último item a ser incluído nela?
Penso que a epidemia do HIV não está controlada em nenhum lugar no mundo, e tampouco no Brasil. Vocês fizeram um excelente trabalho ao introduzir novos medicamentos para as pessoas já infectadas, o que deverá resultar em uma redução da aids nos próximos anos, mas ainda se observam muitas infecções novas. Portanto, o objetivo da PrEP é reduzir novas infecções em nível nacional. E como podemos melhorar a prevenção entre as pessoas em risco? A camisinha é uma ótima ferramenta para prevenir a infecção pelo HIV, mas sabemos que nem todo mundo usa camisinha todo o tempo. Então, para essas pessoas em maior risco, a PrEP vem se somar ao uso do preservativo. Por isso, o importante para as pessoas em risco é usar a camisinha, ou a PrEP, ou ambas.
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PrEP no Brasil
No Brasil, onze estados estão incluídos nesta primeira fase da implementação da PrEP no SUS, que terá início em dezembro nos seguintes estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minais Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. A oferta desta profilaxia estará disponível em trinta e cinco postos de serviços do SUS nesses estados.
A implementação da Profilaxia Pré-exposição de risco ao HIV (PrEP) no SUS vai ocorrer de forma gradual, focando as populações com risco substancial à infecção pelo HIV. Em 2018, no primeiro semestre, será ampliado para outros dezesseis estados: Acre, Alagoas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe, Tocantins. A meta para 2018 é ter pelo menos um serviço de referência em cada estado ao longo do primeiro semestre. No primeiro ano de implementação da PrEP serão oferecidas 7 mil profilaxias.
Assessoria de Comunicação
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
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