CIDADÃS POSITHIVAS

Encontro discute prevenção combinada e saúde integral para mulheres que vivem com HIV/Aids

Acesso à saúde integral e defesa do SUS são destaques em abertura de encontro nacional de mulheres vivendo com HIV/aids

13.09.2018 - 17:21
04.11.2022 - 10:42

 

[node:title]Os avanços e desafios para que ocorra a saúde integral das Mulheres Vivendo com HIV/Aids (MVHA) e os efeitos gerados pelo cenário atual do país foram amplamente discutidos na abertura do 8º Encontro Nacional de Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas (MNCP), que teve início dia 11 de setembro e segue até dia 14, na cidade de Fortaleza (CE).

A mesa de abertura foi composta por representantes regionais do MNCP, da Unaids, da secretaria de saúde do Ceará, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP) e do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (DCCI).

Heliana Moura, secretária política do MNCP, abordou sobre as ações do Movimento e destacou os fundamentos do encontro. "O 8º Encontro é fundamentado nos direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva de gênero, o que consideramos de extrema importância para sinergia das MVHA, para o enfrentamento dos desafios já existentes e os emergentes que afetam a saúde de tais mulheres. Para que os nossos objetivos sejam alcançados, parceiros estratégicos são fundamentais como: gestores, pesquisadores, profissionais de saúde e outros movimentos de mulheres”, afirma.

A união das pessoas que vivem com HIV foi ressaltada pelo coordenador do RNP do Ceará, Vando Oliveira. Segundo ele “é preciso que as redes se unam na defesa de direitos e busca pela qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV no Brasil. Somente desta forma teremos força e voz, ainda maior, para lutar”.

A representante da Unaids, Silvia Almeida, afirmou que a parceria entre a agência e o Movimento é assertiva e permanente, pois, segundo ela, a Unaids acredita no empoderamento das mulheres, na importância do grupo de mulheres posithivas e no fortalecimento de movimentos que possam contribuir para a concretização de projetos que ampliem o acesso à saúde integral de todos os cidadãos.

“Eu sempre penso que cidadãs positivas é um termo muito interessante, pois difere de “mulheres positivas”, sendo agentes políticas, cidadãs, detentoras de direitos, de posições sociais diferenciadas e não vitimadas”, lembrou o coordenador técnico de IST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Saúde do Ceará, Marcos Paiva.

Vitória Bernardes, psicóloga, afirmou que o momento atual permite aumentar a visibilidade do movimento de mulheres enquanto ser político. “Se não falarmos por nós, ninguém vai falar”, disse. O cuidado integral foi lembrado pelo subsecretário de Saúde do Ceará, Marcos Gadelha, que lembrou “a importância de se assumir um papel ativo na saúde”.

Também na mesa de abertura, Caio Oliveria, do Fundo de População das Nações Unidas, UNFPA, lembrou que o acesso aos insumos que envolvem os direitos reprodutivos em MVHA precisa ser garantido.

Por fim, a última a discursar na abertura foi a diretora do DCCI, Adele Benzaken, que aproveitou a oportunidade para parabenizar a luta do Movimento e a escolha do tema. Adele destacou que a prevenção combinada e o acesso à saúde integral são pertinentes na saúde da mulher, especificamente. “Sempre fui e sempre serei uma cuidadora de mulheres. Essa é uma trajetória e esse é o compromisso que me move, sou uma técnica que busca responder aos anseios da sociedade civil e construir os debates de forma conjunta. Acredito muito uma união.”

PALESTRA DE ABERTURA – Após desfeita a cerimônia de abertura, Adele Benzaken foi convidada para palestrar sobre o tema Prevenção Combinada e as ações Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (DCCI), voltadas para as mulheres.

A palestra Magna apresentou o cenário da epidemia no Brasil que destacou a gestação em mulheres vivendo com HIV. De acordo com Adele, a detecção do vírus durante a gestação aumentou, o que demonstra que a prevenção está mais eficaz, em virtude do volume de testes realizados durante o pré-natal. “Inclusive, esses dados abrem a possibilidade para que as mulheres fiquem rapidamente indetectáveis”.

A troca de medicamentos para o tratamento e a realização de pesquisas para verificar possíveis efeitos nas gestantes gerou resultados positivos, segundo a palestrante. “A troca do efavirenz pelo raltegravir gerou resultados animadores em gestantes, uma vez que o dolutegravir ainda não pode ser utilizado por mulheres que pretendem engravidar, já que uma pesquisa realizada em Botswana demonstrou sobre o potencial risco de defeito de tubo neural (DTN), em alguns casos de mulheres que faziam uso deste medicamento durante o período de concepção. ”

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA - Mediante os dados apresentados, Adele ainda lembrou que o DCCI contratou 70 revisores que farão uma investigação nacional de mulheres expostas ao dolutegravir (DTG) durante a concepção e seus conceptos. A ação é uma resposta do Brasil a alerta feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o potencial risco de defeito de tubo neural (DTN) em filhos de mulheres expostas ao medicamento.

“A investigação já está em curso e vai revisar o prontuário de mulheres vivendo com HIV (MVHIV) que fizeram uso do DTG no período periconcepcional – oito semanas antes da data da última menstruação até as oito primeiras semanas de gestação – e que fizeram uso da terapia antirretroviral (TARV) sem o DTG, contendo efavirenz (EFV) ou raltegravir (RAL)”, conclui Adele.

Outro ponto de amplo debate diz respeito à vulnerabilidade racial. Adele discorreu a porcentagem alta de mulheres negras que se infectam por HIV e sífilis no Brasil. Segundo ela, “é importante sair da abordagem biomédica e trazer questões de cunhos sociais, para que haja uma análise completa dos dados”.

Ainda na análise destes dados, Adele completa sua explanação destacando o número entre mulheres trans. “É a primeira vez que demonstramos uma taxa preocupante e elevada de hiv entre essa população, principalmente entre mulheres transexuais. Para se ter uma ideia, somente na cidade de São Paulo, a prevalência nesse grupo chega a 40%”.

Em um segundo momento a exposição retratou o índice em usuárias de álcool e outras drogas. A diretora destacou que o número de mulheres que usam crack, por exemplo, é o dobro se comparado em homens. São 8,17% contra 4,1%. “Por este e outros motivos é que devemos reforçar a importância da redução de danos que presenciamos na mandala de prevenção”.

DEPOIMENTOS E INDAGAÇÕES.

“O que mais podemos falar e fazer para que a camisinha feminina seja aceita pelas mulheres? Todas as semanas subo em ônibus e faço palestras sobre prevenção. É um começo. Mas acho que estamos no caminho”.

Rosário Pires, do MNCP/Bahia.

 “Eu defendo muito a continuidade do serviço de atendimento especializado para pessoas que vivem com HIV. Não concordo de ir para atenção básica e devemos lutar com as mulheres para que isto não aconteça. Estamos em período eleitoral e devemos prestar atenção nos candidatos e o que eles propõem para as mulheres com HIV e suas propostas para a saúde”.

Edna Demétrio, do MNCP/São Paulo.

 “Nós estamos em vários espaços de representatividade social, levando nossa voz e nossas demandas. Cada região com sua necessidade, mas trabalhando sempre e promovendo ações para fortalecer integralmente as mulheres que vivem com HIV/Aids no país, com foco no acesso ao tratamento e à informação”.

Heliana Moura, secretaria política do MNCP

Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
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Típo da notícia: Notícias do DCCI