Vulnerabilidade ao HIV/aids e sífilis na população de travestis e transexuais e seus modos de vida em Salvador-Bahia.

Edital/Chamamento: 
Chamamento Público nº 01/2012
Número do Projeto: 
TC 254/2012

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Maria Inês Costa Dourado

Instituição

Instituição: 
Instituto de Saúde Coletiva (UFBA).
Endereço: 
Rua Basílio da Gama, s./nº, Campus do Canela, Salvador, BA, Brasil.
Parcerias institucionais: 
Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB); Secretaria de Saúde de Salvador (SMS) através dos Centros de Referência de DST/HIV/Aids e CTAs; Colaboradores: Millena Passos, Presidente - ATRAS/Bahia; Keila Simpson - Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT/Bahia; Sofia Gruskin, USC; Amy Nunn, Brown University; Padre Alfredo Dorea - IBCM; Projeto Muriel - Maria Amélia Veras e equipe/FCMSCSP.
Período de Vigência: 
2014-2017
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

A saúde de travestis e transexuais (TRANS) tem recebido crescente atenção mundial, como mostram relatórios de diversos países, apresentando taxas substancialmente mais elevadas de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Mulheres transexuais apresentam uma carga elevada de HIV e necessitam urgentemente de serviços de prevenção, tratamento e cuidados. Uma revisão sistemática de 2012 estimou uma prevalência do HIV de 19,1% (17,4 -20,0) entre 11.066 mulheres transexuais de 15 países. Entre 7.197 mulheres transexuais amostrados em 10 países de renda baixa e média, a prevalência foi 17,7% (15,6 -19,8). E a razão de chances (OR) de infecção por HIV entre mulheres transexuais em comparação com todos os adultos em idade reprodutiva nos 15 países foi de 48,8 (21,2 -76,3). Com relação ao Brasil, um estudo com 638 mulheres transexuais, a prevalência foi 33,1% e uma razão de chances de infecção por HIV de 85,3 em comparação com todos os adultos em idade reprodutiva. Apesar disso, pouco se sabe sobre a saúde e os fatores que contribuem para o aumento do risco para as IST entre os indivíduos trans. Nessa direção, este projeto reconhece a necessidade de pesquisas quantitativas e qualitativas para entender a complexidade dos problemas que as travestis e mulheres transexuais enfrentam em Salvador/BA, vinculados a suas condições e modos de vida.

Objetivos

Investigar as condições e modos de vida de travestis e transexuais em Salvador/BA, bem como a prevalência de HIV, sífilis, hepatites virais e fatores associados a essas infecções, a fim de dar subsídios para a adoção de políticas públicas de prevenção, promoção de saúde e assistência a essa população.

Materiais e Método

Para o desenvolvimento do estudo, foi utilizado um desenho de pesquisa que possibilite produzir dados quantitativos (inquérito sociocomportamental e biológico) da população de travestis e mulheres transexuais (TrMT) em Salvador/BA, como também dados qualitativos (narrativas) referentes a atores específicos dessa população. O inquérito epidemiológico visa coletar dados socioeconômicos e demográficos sobre práticas e comportamento sexual e de uso de drogas, dados de modificações no corpo com o uso de hormônios e silicone, situações de violência, estigma e aprisionamento e acesso a serviços públicos de saúde. Para a realização da pesquisa, foram contatadas, antecipadamente, várias pessoas trans, identificadas em diversos locais da cidade, ou indicadas pelo movimento social, ou no meio virtual (Facebook, Orkut, Skype), visando alcançar o maior número de integrantes da população. Após esse primeiro mapeamento, utilizamos uma técnica de recrutamento de participantes denominada Respondent Driven Sampling (RDS), indicada para populações “de difícil acesso”. Análises descritiva, bivariada e multivariada foram ponderadas pelo inverso do tamanho da rede social das TrMT.

Resultados - Parciais ou Finais

Foram recrutadas 127 TrMT entre 2015 e 2016: 46,2% se autoidentificaram como travesti; 53,8%, como mulher transexual (MT); 57,2% tinham idade entre 15-24 anos; 80,4% eram negras/pardas; 91,3% tinham ≤ 12 anos de escolaridade; 71,3% exerciam trabalho sexual ou estavam desempregadas; uso de preservativo (sempre/às vezes) foi 95,2%, 97,7%, e 62,7% com parceiros casuais, clientes e parceiros fixos, respectivamente. Dados demográficos não diferiram por identidade, mas a prevalência do HIV diferiu significativamente: 14,5%-travestis; 4,3%-MT (p=0,06); assim como o sexo comercial: 96,9%-travestis, 87,9%-MT (p=0,07). A prevalência ponderada de uso de silicone industrial (SI) foi de 34%. As TrMT mais velhas (42,1%); de cor autorreferida branca (43,4%); com menos escolaridade (35,6%); com maior renda (44,7%) apresentaram maiores proporções de uso de SI. Assim como aquelas na prostituição (39,7%); que usam hormônio (35%); positivas para HIV (44,8%); e positivas para sífilis (42,6%).
Conclusões: 
Os dados confirmam taxas desproporcionalmente elevadas de HIV entre as TrMT, mas principalmente entre aquelas que se identificaram como “travestis”, assim como o sexo comercial, importante fator de vulnerabilidade para o HIV. O contexto local deste estudo destacou a importância da autoidentificação e análise de terminologia que as próprias participantes usaram. Esses resultados são importantes para pesquisas futuras, assim como para políticas públicas inclusivas, no momento em que o Brasil amplia, em alguma medida, serviços públicos de saúde para pessoas trans.
Palavras-Chave: 
Travestis. Mulheres transexuais. HIV. Aids. Sífilis. IST. PrEP. Discriminação.

Divulgação e/ou Publicações

DOURADO Inês et al. Construindo pontes: a prática da interdisciplinaridade. Estudo PopTrans: um estudo com travestis e mulheres transexuais em Salvador, Bahia, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 32, n. 9, p. e00180415, 2016.

MACCARTHY, S. et al. Mind the gap: implementation challenges break the link between HIV/Aids research and practice. Cad. Saúde Pública, v. 32, n. 10, p. e00047715, 2016.

Bolsa da CAPES - Cátedra CAPES - Brown University. Professora da Universidade Brown na Escola de Saúde Pública, janeiro a maio de 2015. Estudo Pop Trans.

Aplicabilidade para o SUS

Apresentados em conjunto com o trabalho “Conhecimento e aceitabilidade da PrEP (profilaxia Pré-Exposição ao HIV) entre travestis e mulheres transexuais em Salvador, Bahia” (TC 256/2013).