Conselho Estadual de Saúde debate implementação e expansão da PrEP
Balanço nacional mostrou boa taxa de adesão dos usuários que já iniciaram a profilaxia, mas ainda há baixa procura pela PrEP entre a população trans, pessoas negras e de baixa renda, profissionais do sexo e jovens gays
A convite do Conselho Estadual de Saúde de São Paulo, o Departamento de Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde apresentou, nesta terça-feira (2/10), em São Paulo, um balanço nacional da implementação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e as estratégias de ampliação da rede de serviços nos estados. Desde janeiro, o novo método de prevenção ao HIV está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) às populações mais vulneráveis a infecção. Atualmente, todos os estados brasileiros contam com pelo menos um serviço do SUS ofertando a PreP com 65 serviços em 46 cidades.
Os dados de monitoramento dos seis primeiros meses de implantação na PrEP no Brasil, apresentados pelo DCCI durante a reunião, mostram que foram 4.570 usuários cadastrados e destes 3.992 já entram em PrEP. Os critérios de elegibilidade para iniciar a profilaxia incluem ser HIV negativo, fazer parte de uma das populações-chave (gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo e casais sorodiferentes) e maior vulnerabilidade à infeção pelo HIV, como não uso de preservativo, episódios frequentes de IST e/ou o uso repetido de Profilaxia Pós-exposição (PEP)
O balanço também mostrou a boa adesão à PrEP no país. “Para a nossa surpresa a taxa de abandono foi de 12,3%, abaixo da média apresentada em estudos internacionais, e 75,8% dos usuários relatam tomar todos os comprimidos após 30 dias de uso da profilaxia”, informou a Diretora do DCCI, Adele Benzaken. Ela destacou também que mais da metade dos usuários em Prep relataram o uso frequente de preservativos após o início da profilaxia. “Esse dado desmistifica a ideia de que com a PrEP as pessoas iriam abandonar o uso de preservativos”, disse a diretora do DCCI.
EXPANSÃO - A expectativa do Ministério da Saúde é expandir ainda mais a rede de serviços e ampliar o número de pessoas iniciando a PrEP. “Compramos um quantitativo de profilaxias mais que necessário para o volume de dispensação, temos estoque suficiente de medicamentos para garantir atendimento as todos os usuários com indicação para PrEP”, reforçou Adele Benzaken. A diretora do DCCI explica que “foram adquiridos 9 mil tratamentos, o que não equivale a termos capacidade de atender apenas 9 mil usuários, já que as pessoas entram e saem da PrEP de acordo com seu momento de vida e fase de menor ou maior risco de exposição ao HIV”, explicou Adele Benzaken.
“Agora nosso maior desafio é fazer com que a profilaxia chegue a quem mais pode se beneficiar dela e esteja em maior risco de contrair o HIV, como indivíduos de baixa renda e não brancos, pessoas trans, profissionais do sexo e jovens gays”, ressalta. Segundo dados do balanço de dispensação da PrEP, 80% dos usuários em PrEP no SUS é de homens gays, brancos e com alta escolaridade.
Nessa fase de expansão, a ampliação da rede de serviços de PrEP ficará sob a responsabilidade das secretarias estaduais de saúde, com apoio do Ministério da Saúde. Para isso, as coordenações locais contam com o “Guia com Orientações para a expansão da oferta da PrEP” na rede de serviços de saúde. Além disso, o DCCI irá investir na capacitação dos profissionais e no apoio técnico aos serviços de saúde que ainda estão com baixa dispensação, além do desenvolvimento de ações de comunicação direcionadas às populações que ainda procuram pouco a PrEP.
PREP EM SÃO PAULO - A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo também apresentou dados regionais de monitoramento e a estratégia de expansão de rede de serviços de PrEP no estado. São Paulo é o estado com maior numero de serviços e de dispensações de PrEP no país, com 14 serviços em sete municípios e 2.600 usuários usando a profilaxia, atualmente.
“Nessa segunda onda de implantação da PrEP, já temos 11 novos munícipios e mais três serviços na cidade de São Paulo habilitados para iniciar a dispensação de PrEP já agora em outubro, mas nossa meta é ampliar a rede para 40 municípios”, informou a responsável pelo Núcleo de Populações Vulneráveis do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS de São Paulo, Karina Wolffenbüttel.
PrEP ADOLESCENTE – Após as apresentações os conselheiros de saúde tiraram duvidas e fizeram apontamentos sobre as perspectivas de expansão da PrEP. O representante da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Jorge Beloqui, indagou se nessa fase de expansão haverá inclusão de novos públicos elegíveis para PrEP, como homens e mulheres heterossexuais.
A diretora do DCCI informou que nesse momento a prioridade são os adolescentes. “Com os resultados do estudo PrEP Adolescente teremos dados nacionais para podermos retornar essa discussão com a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS para inclusão dessa faixa etária entre os públicos elegíveis”, disse Adele Benzaken.
O PrEP Adolescente é um estudo demonstrativo entre homens que fazem sexo com homens e mulheres transexuais adolescentes, de 15 a 19 anos, desenvolvido em parceria com a Fiocruz e a Unitaid, que avaliará a eficácia da PrEP nesses dois grupos, durante um período de três anos em três capitais brasileiras: Salvador, São Paulo e Belo Horizonte.
Atualmente no Brasil, os jovens entre 15 e 24 anos – especialmente os homens que fazem sexo com homens (HSH) e pessoas trans – estão entre os mais vulneráveis à infecção pelo vírus. É a primeira vez que o país realiza pesquisas sobre PrEP com essa faixa etária. Até então, os estudos nacionais sobre a profilaxia foram conduzidos apenas com adultos.
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
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