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Audiência pública sobre produção de medicamento contra gonorreia conta com participação de apenas um laboratório
IST
Audiência pública sobre produção de medicamento contra gonorreia conta com participação de apenas um laboratório
Outras sete empresas e Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil também foram convidadas pelo DCCI
02.05.2018 - 17:26
última modificação:
04.11.2022 - 10:41
Apenas uma das oito empresas farmacêuticas convidadas pelo Departamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (DCCI) compareceu à audiência pública realizada na última terça-feira (17), em Brasília, sobre a produção do medicamento cefixima no Brasil. A Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob) também foi chamada, mas não enviou representante.
O objetivo da audiência foi discutir com as empresas - possíveis fornecedores – o aparente desinteresse pela fabricação do medicamento, já que sua comercialização é necessária no país. A cefixima é usada no tratamento da gonorreia, umas das infecções sexualmente transmissíveis que mais vem apresentando resistência aos antibióticos nos últimos anos. A cefixima ainda não tem registro válido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até o momento. Além disso, também foi abordado sobre a ceftriaxona 500mg intramuscular que, embora tenha registros na Anvisa, o fármaco não se encontra disponível num quantitativo suficiente para atender a demanda do tratamento da gonorreia.
“O Brasil é um dos poucos países do mundo que não tem empresas interessadas na fabricação ou no fornecimento desse medicamento: parece que não existe interesse da indústria farmacêutica pelo tratamento da gonorreia”, observou a diretora do DCCI, Adele Benzaken.
O representante da Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos, a única a comparecer à audiência, disse que “a empresa irá realizar estudos internos para avaliar as possibilidades e a viabilidade de comercialização do medicamento”.
Estima-se que mais de 1 milhão de novos casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ocorram diariamente em todo o mundo. No Brasil, a estimativa é de 498 mil novos casos de gonorreia por ano - sendo 55% em mulheres e 45% em homens. Os dados são de 2012.
SOBRE A CEFIXIMA - Conhecida comercialmente como cefnax, a cefixima é um antibacteriano de uso oral, que tem maior adesão por parte dos pacientes em relação aos medicamentos injetáveis. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) identificaram que até 20% das pessoas recusam-se a tomar medicamentos injetáveis para sífilis, o que faz a entidade avaliar que o mesmo ocorra com o tratamento para gonorreia. Além disso, alguns profissionais de saúde, na prática, são avessos a aplicar injeções, além de alegarem aumento do tempo do trabalho. Instituições de saúde também preferem o uso de medicamentos via oral, pois consideram que a administração intramuscular encarece os serviços de assistência.
SENGONO – Entre 2016 e 2017, em caráter inédito, o Ministério da Saúde, por meio do DCCI, estabeleceu parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e sítios de coleta para realização do projeto SenGono – estudo nacional de vigilância da resistência das cepas de gonorreia circulantes no Brasil.
Projeto SenGono analisou cepas provenientes de sete locais de coletas - Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Manaus – distribuídos em todas as regiões do país, e constatou-se resistência, já bem estabelecida do gonococo à sulfas, tetraciclinas e penicilinas. Além disso, evidenciou-se uma resistência emergente e em franca expansão ao ciprofloxacino, com taxas próximas e até superiores a 50% em todas as regiões do país. As cefalosporinas de terceira geração - ceftriaxona e cefixima - também foram testadas, e não foram encontradas cepas resistentes a essa classe de fármaco. Corroborando os dados da OMS que recomenda esas cefalosporinas de terceira geração como opção para o tratamento da gonorreia em substituição ao ciprofloxacino.
Os resultados do estudo culminaram na atualização da recomendação nacional para o tratamento da gonorreia. De acordo com Nota Informativa nº 6, publicada em 26 de julho de 2017, o esquema terapêutico preferencial preconizado para a infecção gonocócica anogenital não complicada (uretra, colo do útero e reto) em todo o país deve ser constituído pela terapia dupla de ceftriaxona 500mg intramuscular (IM) associada à azitromicina 1g (VO) em dose única.
A cefixima, embora seja utilizada mundialmente para o tratamento da gonorreia, não foi inserida na recomendação devido à ausência de registros válidos na Anvisa.
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
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Típo da notícia: Notícias do DCCI