Simpósio avalia atualização de manejo das IST, do HIV e das hepatites virais
Foram apresentadas a situação das doenças no país e atualização de PCDTs
Levar as IST para o centro da resposta junto com o HIV/aids e as hepatites virais foi a proposta da diretora do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), Adele Benzaken, no Simpósio “Manejo das IST, do HIV e das Hepatites Virais” no último dia do VII Congresso Brasileiro de Aids, na quinta-feira (13), no Rio de Janeiro. A diretora participou com o tema “Atualização do Manejo das Infecções Sexualmente Transmissíveis” e abordou a mandala da Prevenção Combinada; a mudança da terminologia de DST para IST; os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT); a vacinação contra o HPV no SUS; e as novas definições para sífilis latente.
“Atualmente, o Ministério da Saúde tem trabalhado com protocolos, substituindo os manuais, o que representa uma mudança positiva sob o ponto de vista organizacional e normativo. Com essa nova conduta, os profissionais de saúde podem usar a mesma forma de diagnosticar e tratar”, observou Adele Benzaken ao comentar a inclusão dos protocolos. Sobre a mudança da nomenclatura – de DST para IST, anunciada em novembro de 2016 –, a diretora lembrou que o termo já era utilizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “O termo IST alerta a população sobre a possibilidade de se ter e de transmitir a infecção, mesmo sem os sinais e sintomas. Por isso é considerado o mais adequado”, explicou.
A diretora do DCCI lembrou que ainda há barreiras ao controle das IST no país. “Existem muitas perdas em diferentes níveis entre a infecção e a cura”. E alertou que a vacina contra HPV no SUS precisa ser trabalhada conjuntamente entre os profissionais de saúde, a fim de que não haja risco de baixa adesão. “Precisamos tratar o tema com empolgação, informar às pessoas sobre a necessidade da aplicação dessa vacina. A cobertura, apesar de todos os esforços, ainda está aquém do esperado”.
HEPATITES VIRAIS – A consultora do DCCI especialista em hepatites virais, Elisa Cattapan, apresentou o tema “Atualização do Manejo das Hepatites Virais B e C”, ocasião em que abordou o cenário epidemiológico dos dois agravos. No caso da hepatite B, a maior taxa de detecção em 2016 está concentrada na faixa etária entre 40 e 49 anos, sendo que aumenta mais em homens a partir dos 35 anos de idade. “Essa população apresenta maior número de casos pois não adotou métodos de prevenção e não se vacinou”, afirmou Elisa Cattapan.
Já a hepatite C tem aproximadamente 1,7 milhão de pessoas infectadas, com maior concentração no público adulto. As regiões Sul e Sudeste apresentam, juntas, 86% dos casos detectados. “Isso se deve, em grande parte, à maior possibilidade de acesso ao diagnóstico nesses locais, que têm, ainda, estruturas de atendimento mais amplas em relação ao restante do país”, disse Elisa Cattapan.
O PCDT mais recente para hepatite B é de 2016 e, segundo Elisa Cattapan, apresenta alternativas ao anterior – de 2011 – tais como o arsenal terapêutico simples; superioridade de barreira genética; melhor posologia (reduzindo a dosagem de interferon de três vezes por semana ou de uma vez ao dia para uma vez por semana); e tratamento para hepatite Delta conforme tecnologias disponíveis no SUS. “O novo PCDT objetiva a substituição de medicamentos por componentes mais eficazes ou com posologia mais apropriada. A possibilidade de um tratamento finito não pode estar restrita à escolha do profissional de saúde. Recomendações diversas ilustram que o ganho obtido na terapia com interferon se dá com o início dessa terapia e sequência realizada com análogos”, disse.
Já o PCDT para hepatite C estabelece novas diretrizes terapêuticas nacionais e orienta os profissionais de saúde para que estabeleçam uma política baseada nas melhores evidências da literatura científica. “A intenção é promover assistência humanizada e especializada; buscar melhor qualidade na assistência e uso racional do arsenal terapêutico e demais insumos estratégicos; garantir melhores resultados em saúde pública e sustentabilidade do acesso universal ao tratamento; w reduzir a probabilidade de evolução para insuficiência hepática e câncer hepático”, detalhou Elisa Cattapan. Os objetivos do tratamento para hepatite C são a resposta virológica sustentada, com carga viral indetectável na 12ª semana ou na 24ª semana após o tratamento.
HIV – O manejo da infecção pelo HIV em adultos e em crianças e adolescentes foi tema da exposição da especialista do DCCI em tratamento, Fernanda Rick. De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016, 827 mil pessoas vivem com HIV/aids no Brasil e cerca de 40 mil novos casos são registrados anualmente. Em 2014, foram registrados 12 mil óbitos devidos à aids.
A construção dos PCDTs de HIV/Aids no Brasil e as novas recomendações foram destacadas pela especialista. “Trabalhamos de forma árdua para colocar o material disponível em tempo hábil. Todas as informações estão baseadas em evidências científicas, com a avaliação da Conitec, que resulta na efetividade e sustentabilidade como política pública, com equidade e acesso universal ao SUS”, afirmou.
Dentre as principais alterações do PCDT para o Manejo do HIV/aids em Adultos, estão a incorporação de dolutegravir 50 mg para início de tratamento e como medicamento de uso restrito; a ampliação de uso do dolutegravir para segunda linha; a ampliação de uso para Pessoas Vivendo com HIV/Aids do alelo do HLA*-B5701 no SUS; e a exclusão, no SUS, dos medicamentos didanosina, saquinavir e fosamprenavir. O esquema inicial preferencial em adultos é o tenofovir, lamivudina e dolutegravir. Já o esquema inicial alternativo é o abacavir/tenofovir com lamivudina e efavirenz.
No caso da para coinfecção tuberculose-HIV, o esquema inicial preferencial sem critério de gravidade é tenofovir + lamivudina + efavirenz. Com critério de gravidade é tenofovir + lamivudina + raltegravir.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo do HIV/Aids em Crianças e Adolescentes tem como principais alterações a utilização do medicamento raltegravir como primeira linha de tratamento para pacientes com idade entre dois e 12 anos; o dolutegravir para crianças acima de 12 anos; a vacina para HPV para ambos os sexos entre nove e 26 anos; e as desincorporações dos antirretrovirais didanosina, saquinavir e estavudina.
AGRADECIMENTOS – Na plateia, a escritora e ativista Janette Alvim Soares, de Guarapari (ES), agradeceu ao Ministério da Saúde por não ser mais paciente coinfectada com HIV e hepatite C. Ela descobriu a coinfecção em 1990 e iniciou o tratamento com daclatasvir, sofosbuvir e ribavirina somente em novembro de 2016. “Antes disso, passei muitos anos numa agonia só. Quando descobri que estava apenas monoifectada, que havia me curado da hepatite C, em maio de 2017, eu percebi que havia nascido novamente”, declarou. Durante o VII Congresso Brasileiro de Aids, ela colocou à venda o livro Pássaros ainda cantam em minha janela, em que narra a sua trajetória desde o movimento hippie, nos anos 70, até o dia que descobriu que tinha o vírus HIV e seu histórico de luta contra a doença.
Assessoria de Comunicação
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
Conheça também a página do DCCI no Facebook:
https://www.facebook.com/ISTAidsHV