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Estudo traça perfil do comportamento em relação ao HIV, sífilis e hepatites B e C em travestis e mulheres trans
PESQUISA
Estudo traça perfil do comportamento em relação ao HIV, sífilis e hepatites B e C em travestis e mulheres trans
Pesquisa foi realizada em 12 municípios brasileiros com 2.846 entrevistadas
07.05.2019 - 18:10
última modificação:
04.11.2022 - 10:43
Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) do Ministério da Saúde, realizou o “Estudo de Abrangência Nacional de Comportamentos, Atitudes, Práticas e Prevalência para o HIV, Sífilis e Hepatites B e C entre Travestis e Mulheres Trans”, também conhecida como Pesquisa Divas, mostra a situação destas populações-chave em 12 municípios brasileiros.
Pela primeira vez, o Brasil faz uma pesquisa desse tipo com amostra tão significativa. Foram entrevistadas no total 2.846 travestis e mulheres trans, distribuídas nas cidades de Belém (259 entrevistadas), Belo Horizonte (181), Brasília (201), Campo Grande (108), Curitiba (246), Fortaleza (348), Manaus (230), Porto Alegre (79), Recife (350), Salvador (166), Rio de Janeiro (292) e São Paulo (386).
A prevalência de HIV variou de 19,7% (Curitiba) a 65,3% (Porto Alegre), entre a população de mulheres trans pesquisadas. A sífilis ativa teve maior presença em Porto Alegre, com 35,3%. A hepatite C teve a maior prevalência em São Paulo (2,9%), enquanto a hepatite B foi de 5,9%, também na capital paulista.
De acordo com a pesquisa, a idade média das entrevistadas variou de 25,6 anos a 33,7 anos. A renda média oscilou de R$ 767,54 a R$ 2.166,24. A prevalência no ensino fundamental variou de 21,7% (Curitiba) a 58,1% em São Paulo. Com ensino médio, de 34,5% (São Paulo) a 59,9% (Belém).
Dentre a idade média em que passaram se identificar com o gênero atual, a variação foi de 12 anos (Belém) e 14 anos (Rio de Janeiro). Já a idade média entre as entrevistadas que iniciaram a transição de gênero variou de 16,1 em Fortaleza a 18,3 no Rio de Janeiro.
Segundo a pesquisa, as taxas de infecção por HIV e sífilis encontradas no estudo são elevadas quando comparadas com a população em geral e em relação às outras populações-chave (profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de droga).
Ainda que, por hora, não tenham sido realizadas análises de fatores e/ou comportamentos associados às taxas de infecção, e identificadas as que diferem das demais populações-chave, os resultados da pesquisa apontam para maior vulnerabilidade dessa população a infecção pelo HIV, e destacam a influência de fatores com preconceito, discriminação e violência a que essa população está exposta em diferentes ambientes, incluindo serviços de saúde, o que pode dificultar o acesso e a manutenção ao tratamento.
Prevenção e testagem - O uso consistente de preservativos em relações sexuais considerando as parcerias fixas, nos 30 dias anteriores a entrevista, variou de 31,5% em Campo Grande a 54,3% em Belém. O uso constante de preservativos em relações sexuais com parcerias eventuais, nos 30 dias antes da entrevista, teve maior registro em Belém, com 78,8%. Quanto à relação sexual nos 30 dias anteriores a entrevista, a maior parte é das consultadas em Manaus (90,9%). O preservativo recebido em serviços de saúde foi conseguido por 40,9% das entrevistadas em Salvador e 80,4% em Recife.
Mais da metade das participantes de todos os 12 municípios envolvidos no estudo fizeram uso de hormônio injetável, sendo que o menor registro foi em Curitiba (60,6%) e a maior adesão em Recife (91,9%).
A realização da testagem para HIV e sífilis alguma vez na vida teve o maior registro em Porto Alegre com 97,4% e 84,5%, respectivamente. Já para as hepatites B e C, a maior alta foi em Curitiba com 75,4% e 73,4%, respectivamente.
A prevalência da testagem para IST nos 12 meses anteriores à entrevista variou de 36,6% em Fortaleza a 74,1% em Curitiba. O resultado positivo para alguma IST variou de 24% em Salvador a 61,9% em Porto Alegre. O tratamento para o agravo dentre as que receberam resultado positivo variou de 66,9% em Campo Grande e 97,8% em Porto Alegre.
Discriminação e violência - A grande maioria das participantes do estudo relatou ter se sentido discriminada por ser travesti ou mulher trans alguma vez na vida, com variação de 76,1% em Belém e 93,9% no Rio de Janeiro. O local com maior frequência de ocorrências de discriminação foi a rua, em todos os municípios pesquisados, variando de 69,6% em Porto Alegre a 95,3% no Rio de Janeiro A própria casa foi local onde foram discriminadas variando de 23,89% (Belém) a 50,2% (São Paulo). Nos serviços de saúde também foram registrados casos de discriminação, com maior incidência em São Paulo (42,9%).
O local de trabalho foi o local onde já se sentiram discriminadas, variando de 16,7% em Belém a 58,9% em Belo Horizonte. Na maioria dos 12 municípios, mais da metade das entrevistadas revelou ter sofrido violência sexual ao menos uma vez na vida, variando de 44,7% em Curitiba e 72,7% em Porto Alegre.
Cerca de metade das participantes, em quase todos os municípios, já relatou ter pensado em se matar alguma vez na vida, com variação de 26,6% em Belém e 61,9% em Curitiba.
Desenho do estudo - A metodologia adotada foi a Respondent-Driven Sampling (RDS), aplicada e recomendada como estratégia de amostragem de populações-chave para monitoramento do HIV/aids. Os critérios utilizados no estudo foram que as pessoas pesquisadas tivessem, no mínimo, 18 anos de idade; ser travesti, mulher, mulher trans ou outra identificação de gênero feminino; ter sido registrada como sexo masculino na época de seu nascimento; não ter participado da Pesquisa Divas. O estudo foi coordenado pelos pesquisadores da Fiocruz, Francisco Bastos e Carolina Coutinho. O estudo teve financiamento do Banco Mundial.
As convidadas assinaram termo de compromisso para realização da entrevista e respondiam ao questionário que abordava informações sociodemográficas, conhecimento das formas de transmissão de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis; comportamento sexual; uso de álcool e outras drogas; necessidades de saúde; experiências de discriminação e de violência; visibilidade trans; integração e participação social.
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
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Típo da notícia: Notícias do DCCI