Estudo de abrangência nacional de comportamentos, atitudes, práticas e prevalências de HIV, sífilis e hepatite B e C entre Mulheres Profissionais do Sexo nos municípios de Belém/PA, Belo Horizonte/MG, Brasília/DF, Campo Grande/MS, Curitiba/PR, Fortaleza/CE, Manaus/AM, Porto Alegre/RS, Recife/PE, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA e São Paulo/SP.

Edital/Chamamento: 
Processos Licitatórios 172/2013 - UNESCO
Número do Projeto: 
NA

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Célia Landmann Szwarcwal

Instituição

Instituição: 
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT); Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Ministério da Saúde; Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz).
Endereço: 
Av. Brasil, 4365, Pavilhão Haity Moussatché, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Parcerias institucionais: 
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais; Secretaria de Vigilância em Saúde; Ministério da Saúde.
Período de Vigência: 
2015-2017
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

No Brasil, usuários de drogas injetáveis (UDI), homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres profissionais do sexo (MPS) são considerados os grupos mais expostos à infecção por HIV. Estima-se que o grupo de MPS represente 0,8% da população feminina brasileira de 15 a 49 anos, representando cerca de meio milhão de mulheres, aproximadamente.

Objetivos

Estimar as taxas de prevalência de HIV, sífilis, hepatite B e C, bem como identificar os fatores associados à infecção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis entre as TS, incluindo as características sociodemográficas, características da profissão, práticas sexuais e uso de drogas lícitas e ilícitas.

Materiais e Método

A amostra foi coletada pelo método de amostragem denominado Respondente driven-sampling (RDS) (RDS), no qual a seleção dos participantes é realizada por pares do mesmo grupo populacional por meio de sucessivos ciclos de recrutamento (ondas). O tamanho de amostra foi de 350 entrevistas por cidade. A execução do trabalho de campo foi em unidades de saúde. Para cada município, foram escolhidas de cinco a 10 participantes iniciais, denominadas “sementes”, escolhidas de forma não aleatória (dirigida). Cada “semente” recebeu três convites para recrutar outras três TS conhecidas. Foram consideradas elegíveis as mulheres com 18 anos ou mais, que trabalhavam como TS no município de estudo, que tiveram pelo menos uma relação sexual em troca de dinheiro nos quatro meses anteriores à pesquisa e que apresentaram um convite válido. O questionário foi modular e incluiu informações sociodemográficas, características do trabalho sexual, conhecimento sobre a transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), práticas sexuais, histórico de teste de HIV, sífilis e hepatites B e C, uso de álcool e drogas ilícitas, acesso às atividades de prevenção e serviços de saúde e discriminação e violência. Foi realizada a coleta de sangue venoso para a realização de testes rápidos para HIV, sífilis, hepatites B e C, obedecendo aos protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde. As amostras reagentes foram encaminhadas para realização de exames confirmatórios posteriores.

Resultados - Parciais ou Finais

Na amostra total de 4328 TS, aproximadamente, 50% tinha menos de 30 anos, 48% não completaram o ensino fundamental. Em relação às características do trabalho, 46% trabalham em pontos de rua, e mais de 70% cobram menos do que R$100,00 por programa. Chama a atenção que 38% iniciaram o trabalho sexual com menos de 18 anos. Percentual bem pequeno (8%) participa de alguma ONG de promoção e defesa dos direitos das trabalhadoras do sexo. O uso regular de camisinhas com clientes no sexo vaginal foi de 81%. A cobertura do teste de HIV foi de 84%, alguma vez na vida, e de 44% nos últimos 12 meses. A cobertura de exame ginecológico no último ano foi de 32%. O fato de nem sempre se revelar como trabalhadora do sexo nos serviços de saúde foi o principal fator, associado à baixa cobertura de exame ginecológico. A prevalência de HIV foi de 5,3%, a de sífilis foi de 8,5%, e as prevalências de hepatites B e C foram de 0,4% e 0,9%, respectivamente.
Conclusões: 
O monitoramento de indicadores de comportamentos, atitudes e práticas sexuais de TS e as prevalências de Infecções sexualmente transmissíveis nesta população são fundamentais para subsidiar políticas públicas de promoção da saúde e prevenção de comportamento de risco. Os resultados do estudo demonstraram que as TS estão expostas a múltiplos danos, incluindo o uso de drogas ilícitas, a violência e a criminalidade, a exploração, bem como o estigma e a discriminação. Assim como há uma grande ascendência da prevalência de sífilis nesta população. Nesse sentido, intervenções sociais abrangentes devem se concentrar nas múltiplas necessidades desta população vulnerável, incluindo fatores individuais e contextuais que podem influenciar o comportamento sexual.
Palavras-Chave: 
Mulheres profissionais do sexo. Prevalência de HIV. Sífilis. Hepatite B e C. Respondente driven-sampling.

Divulgação e/ou Publicações

SZWARCWALD, Célia Landmann; DAMACENA, GN; SOUZA-JR, P. R. B.; GUIMARÃES, M. D. C.; ALMEIDA, W. S.; FERREIRA, A. P. S.; FERREIRA-JR, O. C.; DOURADO, I. The Brazilian FSWGroup. Factors associated with HIV infection among female sex workers in Brazil. Medicine, May 2018.

SZWARCWALD, Célia Landmann; DAMACENA, GN; SOUZA-JR, P. R. B.; GUIMARÃES, M. D. C.; ALMEIDA, W. S.; FERREIRA, A. P. S.; FERREIRA-JR, O. C.; DOURADO, I. The Brazilian FSW Group. Changes in attitudes, risky practices, and HIV and syphilis prevalence among Female Sex Workers in Brazil from 2009 to 2016. Medicine, 2018.

FERREIRA-JR, O. C.; GUIMARÃES, M. D. C.; DAMACENA, G. N.; ALMEIDA, W. S.; SOUZA-JR, P. R. B.; SZWARCWALD, C.L. The Brazilian FSW Group. Prevalence estimates of HIV, syphilis, hepatitis B and C among female sex workers (FSW) in Brazil, 2016. Medicine, 2018.

Aplicabilidade para o SUS

Especificamente, os resultados deste estudo indicam uma percepção de discriminação ampla e estável nos serviços de saúde, por conta de a mulher ser uma trabalhadora sexual. O estigma e a discriminação nos serviços de saúde constituem uma das principais barreiras ao controle de infecções sexualmente transmissíveis. Além disso, a antecipação do estigma relacionado ao seu trabalho sexual e, possivelmente, à discriminação por parte da equipe de saúde, podem afetar a divulgação do status de TS nos serviços de saúde. No entanto, se uma TS não revelar seu status, os médicos de cuidados primários não sabem que elas se enquadram na categoria do grupo de maior risco e não ofereceriam as intervenções disponíveis. Nesse sentido, é necessário a formulação de estratégias específicas para que o atendimento de TS seja realizado de forma ampla e satisfatória às necessidades inerentes ao seu tipo de trabalho.