Doenças sexualmente transmissíveis, HIV-1, hepatites B e C e o uso de álcool e drogas de abuso em caminhoneiros que trafegam pela BR-153, passando pelo Estado de Goiás, no Centro-Oeste brasileiro.

Edital/Chamamento: 
Edital Modalidade Pesquisas nº 01/2013
Número do Projeto: 
CA 120/2013

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Keila Correia de Alcântara

Instituição

Instituição: 
Universidade Federal de Goiás (UFG); Faculdade de Farmácia.
Endereço: 
Rua 240, esquina com 5ª avenida, Setor Leste Vila Nova, Goiânia, GO, Brasil.
Período de Vigência: 
2013-2015
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Os caminhoneiros estão frequentemente associados à alta prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e uso de estimulantes, para cumprimento da carga horária de trabalho.

Objetivos

Estimar a soroprevalência de IST e uso de drogas em caminhoneiros.

Materiais e Método

Estudo transversal descritivo com caminhoneiros que trafegavam pela BR-153, passando pelo Estado de Goiás. Caminhoneiros foram convidados a participarem do estudo, em um posto de combustível (km-515 da BR-153), entre fevereiro/2014 e fevereiro/2015. Aqueles que aceitaram participar do estudo responderam um questionário estruturado para avaliar o perfil sociodemográfico, histórico de IST, comportamento sexual e ao questionário ASSIST sobre o uso de drogas. Foram coletadas amostras de sangue para a realização de sorologia por enzima imuno ensaio anti-HIV-1/2, anti-HBc total, HBsAg, anti-HBs, anti-HCV e anti-Sífilis Total; Western Blot para confirmar anti-HIV-1/2 positivo, e amostras de urina para ensaio imunocromatográfico para cocaína, maconha e anfetaminas. Realizaram-se análises univariadas pelo cálculo do valor de Odds Ratio (OR) (IC 95%) e regressão logística múltipla para testar associação entre as variáveis.

Resultados - Parciais ou Finais

Dos 697 caminhoneiros incluídos neste estudo, 30% relataram relações sexuais desprotegidas com parceiros ocasionais, e 21,1%, relações sexuais com profissionais do sexo. Um total de 22,8% relatou IST prévia, e cerca de 30% relatou uso de drogas; 687/697 caminhoneiros forneceram amostra de sangue, e 21,9% destes foram positivos para as IST: 0,7% para HIV, 8,5% para sífilis, 10,1% para hepatite B e 2,6% coinfecção sífilis/HBV. Não foi encontrada positividade para HCV. Observou-se 19,3% de imunização para hepatite B. O risco para IST aumentou com a idade e esteve associado ao relato de IST prévia (p
Conclusões: 
As IST ainda estão presentes entre os caminhoneiros, chegando a mais de 20% das amostras analisadas, sendo hepatite B e sífilis as mais prevalentes; e 12% fazem uso de anfetaminas, cocaína e maconha. Estratégias preventivas devem ser direcionadas, especificamente a esse grupo em situação de vulnerabilidade.
Palavras-Chave: 
Brasil. IST. Caminhoneiros.

Divulgação e/ou Publicações

ALCÂNTARA, Keila Correia de. In: 11º CONGRESSO de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Goiás, Goiânia/GO. 2014. (Congresso).

ALCÂNTARA, Keila Correia de. In: 1º ENCONTRO Científico de Pesquisas Aplicadas à Vigilância em Saúde, Brasília/DF. 2014. (Congresso).

ALCÂNTARA, Keila Correia de. In: V CONGRESSO Brasileiro de Toxicologia Clínica – Salvador/BA. PREMIAÇÃO: 3º lugar na apresentação oral de trabalhos. 2014. (Apresentação de Trabalho/Congresso).

ALCÂNTARA, Keila Correia de. In: X CONGRESSO da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, São Paulo, 2015. (Congresso).

ALCÂNTARA, Keila Correia de. In: II CONGRESSO de Ciências Farmacêuticas do Brasil Central, Goiânia/GO, 2015. (Congresso).

COSTA, Carla Danielle Dias. Uso de álcool e drogas por caminhoneiros que trafegam pela BR-153. 2014. Dissertação (Mestrado em Assistência e Avaliação em Saúde) – Universidade Federal de Goiás, 2014. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientadora: Keila Correia de Alcântara.

RODRIGUES, Diogo Sousa. Doenças sexualmente transmissíveis, HIV-1, hepatites B e C em caminhoneiros que trafegam pela BR-153. 2014. Dissertação (Mestrado em Assistência e Avaliação em Saúde) – Universidade Federal de Goiás, 2014. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás. Orientadora: Keila Correia de Alcântara.

BARBOSA, Renata Montes Garcia. Hepatite C em Caminhoneiros que trafegam pela BR153 passando pelo Estado de Goiás no Centro-Oeste brasileiro. 2014. Iniciação Científica. (Graduando em Medicina) - Universidade Federal de Goiás. Orientadora: Keila Correia de Alcântara.

DINIZ, Suzana de Paiva. Hepatites B em caminhoneiros que trafegam pela BR153 passando pelo Estado de Goiás no Centro-Oeste brasileiro. 2014. Iniciação Científica. (Graduando em Medicina) - Universidade Federal de Goiás, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Keila Correia de Alcântara.

Aplicabilidade para o SUS

O Brasil conta com vários programas ou ações de prevenção para IST/Aids, para populações vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens (HSH), gays e travestis, como, por exemplo, o Plano de Enfrentamento da Epidemia de Aids e das IST entre gays, HSH e travestis, que são ações voltadas para a população penitenciária, jovens e mulheres. No entanto, para a saúde dos caminhoneiros, são escassas e isoladas, pontuadas, principalmente, pelo programa do Ministério da Saúde “Fique Sabendo”, que é uma mobilização de incentivo e conscientização da população sobre a importância da realização do exame para HIV-1. Assim, apesar de o caminhoneiro ser associado mundialmente como uma importante ponte facilitadora da disseminação de IST e HIV-1 entre grupos em situação de alta vulnerabilidade, como as profissionais do sexo e a população geral, ele continua sem uma política de diagnóstico e prevenção das IST/Aids. Os gestores do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde do Brasil poderão fazer uso desses resultados para planejarem uma estratégia de ação específica para esse grupo, enfatizando a importância do sexo seguro em 100% das relações sexuais, conscientizando que a transmissibilidade das IST existe e, além de prejudicarem sua própria saúde, caminhoneiros infectados com agentes causadores de ISTs, com práticas heterossexuais desprotegidas, podem atingir mulheres em idade fértil, que, por sua vez, podem transmitir a doença a seus filhos, caso engravidem. Além disso, o uso de álcool e drogas lícitas e ilícitas está diretamente associado ao comportamento de risco, pois o efeito excitatório e relaxante das drogas propicia atitudes que normalmente não seriam tomadas na ausência do álcool e/ou drogas. Em nosso estudo, aproximadamente, 12% dos caminhoneiros apresentaram resultado positivo para drogas, sendo cocaína a mais prevalente. Drogas estimuladoras, como a cocaína e as anfetaminas, estimulam as ações dopaminérgica e noradrenérgica, estando diretamente relacionadas ao aumento da euforia e encorajamento para práticas sexuais extraconjugais e desprotegidas. Os resultados sociodemográficos e de soroprevalência podem ajudar o Sistema Único de Saúde (SUS) a alcançar seus princípios de Universalidade, Equidade e Integralidade da atenção à saúde. Ao levar até à população em situação de vulnerabilidade o acesso aos testes sorológicos, o projeto contribuiu para a universalização, ou seja, um processo de extensão de cobertura dos serviços e que deve se tornar acessível a toda a população. Foi possível observar que muitos caminhoneiros não têm moradia fixa ou vivem em pequenos municípios com baixo grau de desenvolvimento econômico ou habitam a periferia das grandes cidades, não dispondo de condições mínimas de acesso aos serviços, e por causa da profissão, não têm tempo hábil para ir a uma unidade de saúde. Além disso, o trabalho mostrou o quanto as barreiras econômica, cultural e social se interpõem entre a população e os serviços, pelo simples fato de muitos não saberem o que é um correio eletrônico ou ainda acharem muito difícil manusear um computador, e os vários endereços incorretos que nos foram passados, fazendo com que os resultados de exames não chegassem até estes. Ao priorizar a atenção para o grupo de caminhoneiros, cujas condições de vida e saúde são mais precárias e enfatizar essa ação específica para esse determinado grupo, este estudo ajuda o SUS a desenvolver o princípio da equidade, contribuindo ainda mais se houver formulação e implantação de políticas específicas voltadas ao atendimento de necessidades desse segmento que está exposto a riscos diferenciados de adoecer e morrer, em função de características econômico-sociais e culturais. Ou seja, é preciso “tratar desigualmente os desiguais”. Os resultados apresentados podem ajudar na Integralidade de Atenção à Saúde, pois fez o diagnóstico do comportamento sexual, do uso de drogas lícitas e ilícitas e da “epidemia” das IST em um grupo em situação de vulnerabilidade, comprovando a real necessidade de ações para a detecção precoce de doenças, sejam ações de diagnóstico, tratamento e reabilitação para esse grupo em especial.