Hepatite C – Metaplasia Mieloide na gênese da fibrose hepática.

Edital/Chamamento: 
Edital Modalidade Pesquisas nº 01/2013
Número do Projeto: 
CA 101/2013

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Paulo Eduardo de Abreu Machado, PhD

Instituição

Instituição: 
Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).
Endereço: 
Distrito de Rubião Júnior, s./nº, Botucatu, SP, Brasil.
Parcerias institucionais: 
Hospital Amaral Carvalho.
Período de Vigência: 
2013-2015
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Vírus da hepatite C (VHC) é causa de doença inflamatória crônica hepática, com progressão variável para fibrose e cirrose. Cerca de 30 a 40% dos pacientes têm manifestações extra-hepáticas, e parte destas associadas ao vírus. A entrada do VHC em células suscetíveis pode ocorrer por infecção direta, mediada, principalmente, pelos receptores CD81 e Claudina-1(CLDN1), desencadeando internalização e replicação viral, ou por contato célula a célula, mediada por CLDN1 e Ocludina (OCLN). Estudos evidenciam a interação plaquetas-VHC, mas não demonstram claramente se somente aderem às partículas virais ou são infectadas pelo vírus, visto que não expressam CD81. Durante a vida fetal o fígado é um órgão hematopoiético, e em reação secundária a doenças mieloproliferativas ou de origem idiopática, pode ocorrer reativação desta função, levando à hematopoese extramedular (HEM), ou seja, metaplasia mieloide. Diante da característica de hepatotropismo do VHC, bem como as manifestações extra-hepáticas comumente observadas nos pacientes, poderia o vírus atuar como gatilho para ativação de HEM.

Objetivos

Avaliar a existência de HEM hepática em pacientes com hepatite C crônica e a influência na gênese da fibrose hepática.

Materiais e Método

Foram inclusos pacientes VHC crônicos, estratificados conforme classificação METAVIR (biópsia hepática): pacientes nos estágios F1 (G1); F2 (G2); F3 (G3); F4 (G4); grupo controle - saudáveis (G5). Foram realizadas quantificações plasmáticas de quimiocinas (CXCL8, CCL5, CXCL9, CCL2 e CXCL10) e fatores de crescimento (TGF-b, VEGF, FGF, PDGF) e investigada HEM em cortes histológicos hepáticos por imuno-histoquímica com uso dos marcadores CD61/CD34/Fator VIII. Além disso, megacariócitos (MK) e plaquetas, ambos de doadores saudáveis, foram infectados in vitro com plasma VHC+, avaliadas por citometria de fluxo, microscopia confocal e biologia molecular. Os parâmetros analisados foram presença ou ausência viral e expressão dos receptores CLDN1 e CD81.

Resultados - Parciais ou Finais

Nossos dados demonstram que o VHC pode induzir HEM hepática, localizada no infiltrado inflamatório periportal, demonstrada por células de fenótipo CD61+, CD34+, Fator VIII+. Dentre as quimiocinas, observou-se aumento de todas as concentrações plasmáticas nos pacientes VHC versus grupo controle, havendo associações positivas entre grau de fibrose e níveis de CXCL8 e CXCL10. Os níveis de PDGF têm associação negativa com o grau de fibrose. Na análise comparativa, mediante presença ou ausência de HEM hepática, houve expressiva redução dos níveis de PDGF nos pacientes HEM. Com relação à presença do VHC em superfície e citoplasma, o vírus foi identificado em ambas as regiões celulares, tanto em plaquetas quanto em MK. Possivelmente, CLDN1 seja o receptor responsável pela interação VHC-plaquetas, via infecção por contato, visto que estas não expressam CD81. Já MK, são CD81+/CLDN1+, característica que os categoriza como células suscetíveis à infecção direta. Análises quali/quantitativas, buscando a presença do vírus por biologia molecular, também demonstraram que o VHC pode interagir com MK diretamente, sugerindo que o vírus encontrado na plaqueta pode advir da fragmentação de MK infectado.
Conclusões: 
Nosso trabalho permitiu concluir que plaquetas, além de interagirem com VHC, expressam o vírus no seu interior, tornando-se veículos e reservatórios virais. O acúmulo intra-hepático de plaquetas pode induzir HEM hepática, podendo este fenômeno contribuir com a evolução da fibrose hepática nesses pacientes.
Palavras-Chave: 
Fibrose. Megacariócitos. Metaplasia. Plaquetas. VHC.

Divulgação e/ou Publicações

MACHADO, Paulo Eduardo de Abreu et al. 10º CONGRESSO DE HIV/Aids e 3º CONGRESSO DE HEPATITES VIRAIS: metaplasia mieloide hepática na hepatite C crônica, João Pessoa/PB, 2015. (Apresentação de Trabalho/e-Pôster).

MACHADO, Paulo Eduardo de Abreu et al. 11º CONGRESSO DE HIV/Aids e o 4º CONGRESSO DE HEPATITES VIRAIS - setembro de 2017: Interação in vitro de megacariócitos e plaquetas com VHC: influência na fisiopatologia da hepatite C. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).

MACHADO, Paulo Eduardo de Abreu et al. I ENCONTRO NACIONAL ENTRE OS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOENÇAS TROPICAIS: metaplasia mieloide hepática na hepatite C crônica. Botucatu/SP. 2015. (Apresentação de Trabalho/Banner).

MACHADO, Paulo Eduardo de Abreu et al. III FÓRUM DE JOVENS PESQUISADORES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA (SBH): avaliação da infecção de megacariócitos e plaquetas pelo VHC e a influência na fisiopatologia da hepatite C. São Paulo/SP, 2016. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).

MACHADO, Paulo Eduardo de Abreu et al. Premiado em 2º Lugar na sessão de apresentação de pôster da área 2 (Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado) do I Encontro Nacional entre os Programas de Pós-graduação em Doenças Tropicais, Botucatu – UNESP: metaplasia mieloide hepática na hepatite C crônica. Botucatu/SP. 2015. (Apresentação de Trabalho/Pôster).

ROSSO, Aline Márcia Marques Braz. Interação entre citocinas, plaquetas e fibrogenese na investigação da metaplasia mieloide hepática. 2016. Orientado pela Profa Dra Márjorie de Assis Golim, e coorientado pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado com a finalidade de Projeto Acadêmico.

SOUZA, Nathália Almeida. Etecção in vitro do vírus da hepatite C (VHC) em megacariocitos provenientes de indivíduos não infectados expostos ao vírus conduzido. Orientado pela Profa. Dra Rejane Maria Tommasini Grotto, e coorientado pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado com a finalidade de Projeto Acadêmico.

WATANABE, Caroline Mitiká. Avaliação da infecção de megacariócitos e plaquetas pelo VHC e a influência na fisiopatologia da hepatite C. Orientado pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado, e coorientado pela Profa. Dra Márjorie de Assis Golim com a finalidade de Projeto Acadêmico.

Aplicabilidade para o SUS

Novos conhecimentos sobre a fisiopatologia da doença e mecanismos que podem contribuir com agravos, como a progressão da fibrose. A infecção de megacariócitos pelo VHC permitiu demonstrar que plaquetas oriundas de megacariócitos infectados podem ser formadas já carreando o vírus. O conhecimento da fisiopatologia norteia novos protocolos, viabilizando melhor qualidade de vida e novos métodos que podem intervir na história natural da doença e seu controle.