Estudo da Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), hepatites B e C e sífilis em população em situação de rua de Goiânia, Goiás: prevalência e fatores de risco.

Edital/Chamamento: 
Edital Modalidade Pesquisas nº 01/2013
Número do Projeto: 
CA 100/2013

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Marcos André de Matos

Instituição

Instituição: 
Universidade Federal de Goiás (UFG); Faculdade de Enfermagem.
Endereço: 
Av. Esperança, s./nº, Campus Samambaia - Prédio da Reitoria, Goiânia, GO, Brasil.
Parcerias institucionais: 
Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia-Goiás; Secretaria Estadual de Saúde de Goiás; Secretaria Municipal de Assistência Social de Goiânia-Goiás (SEMAS); Universidade Estadual de Goiás; Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.
Período de Vigência: 
2013-2015
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Avaliar a existência de HEM hepática em pacientes com hepatite C crônica e a influência na gênese da fibrose hepática.

Objetivos

Investigar a epidemiologia da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), HIV e sífilis em indivíduos em situação de rua em Goiânia, Goiás, durante agosto de 2014 a junho de 2015, 353 indivíduos atendidos no único albergue público de Goiânia foram entrevistados, utilizando-se um roteiro estruturado, contendo questões sobre características sociodemográficas, clínicas e fatores de risco para essas infecções. A seguir, foi coletado amostras sanguíneas para realização de testagem rápida (TR), por meio de teste imunocromatográfico e, posteriormente, por ELISA. Avaliou-se os marcadores sorológicos do HBV (HBsAg, anti-HBs e anti-HBc total), HCV (anti-HCV), HIV (Anti-HIV 1 e 2) e sífilis (anti-T.pallidum).

Resultados - Parciais ou Finais

Observou-se predomínio de indivíduos do sexo masculino (81,3%), de cor/raça parda autodeclarada (61%), solteiros (59,8%), de baixa renda (70%) e baixo nível de escolaridade (53,3%). Estimou-se uma prevalência global para o HBV de 21,81% (IC 95%: 17,82 - 26,41): dois indivíduos foram HBsAg/anti-HBc positivos, 61 foram anti-HBc/anti-HBs e 16 apresentaram reatividade ao marcador anti-HBc isolado. Ainda, 19,55% (IC: 95%: 15,75 - 24,00) apresentaram positividade isolada para o anti-HBs, sugerindo imunidade para o HBV. A análise de potenciais fatores de risco para HBV mostrou que: idade >50 anos, ser homossexual ou bissexual, e ser de cor preta/negra autodeclarada, independentemente se associados à exposição ao HBV. Para hepatite C, a prevalência foi de 3,4% (IC 95%: 1,9 - 5,8), sendo as variáveis idade, ser natural da Região Sudeste, experiência de pernoite na rua e uso de drogas injetáveis (UDI), fatores estatisticamente associados à infecção pelo HCV. Dos 12 indivíduos positivos para hepatite C, somente dois buscaram tratamento, porém não houve adesão, e outros dois evoluíram para óbito, em decorrência de cirrose hepática por hepatite C. Ainda, o TR utilizado neste estudo teve um elevado índice de concordância com o ELISA, cuja sensibilidade e especificidade foi de 91,7% e 99,7%, nessa ordem. Já para HIV e sífilis, as prevalências foram 3,9% (IC95%: 2,26 - 6,36) e 78 (22,0%; IC 95%: 17,90 - 26,50), respectivamente. Uso diário de bebida alcoólica, sexo com portador(a) de HIV e sexo com pessoas do mesmo sexo foram variáveis associadas ao HIV. Já o sexo feminino, antecedentes de IST, testagem prévia para sífilis, hepatite C e sexo com usuário de drogas se mostraram estatisticamente associados à sífilis.
Conclusões: 
Os resultados ratificam a vulnerabilidade desse subgrupo populacional e uma elevada prevalência de exposição às infecções sexualmente transmissíveis. Ainda, a baixa frequência de evidência sorológica de imunização contra o HBV, especialmente nos indivíduos mais velhos, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e ineficiência de políticas de apoio, evidenciam a necessidade de elaboração de estratégias combinadas de vacinação, distribuição de preservativos, redução de danos, testagem rápida com diagnóstico e tratamento precoce nos locais de apoio à PSR.
Palavras-Chave: 
Hepatites virais. Sífilis. HIV. Epidemiologia. Indivíduos em situação de rua.

Divulgação e/ou Publicações

CARVALHO, P. M. R. S. et al. Prevalência, fatores de risco e imunização para hepatite B: ajudando a preencher a lacuna da epidemiologia da hepatite B em desabrigados Goiânia, Brasil Central. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, p. 1-9, 2017.

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SOUZA, Jéssyca Pereira e. Investigação da infecção pelo vírus da hepatite C em indivíduos em situação de rua albergados em Goiânia, Goiás: prevalência e fatores associados. 2017. Orientador: Marcos André de Matos. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

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NUNES, Brenda Kelly Gonçalves. Prevalência e fatores de risco para hepatite C em indivíduos em situação de rua no município de Goiânia-Goiás. 2015. Orientador: Marcos André de Matos. Programa de Iniciação Científica/CNPq, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2015.

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PINHEIRO, Raquel Silva. Epidemiologia do HIV e sífilis em população abrigada/em situação de rua em Goiânia-Goiás. 2017. Orientadora: Sheila A. Teles. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

LAWDER, Juliana Aparecida de Campos. Condição de saúde bucal, comportamentos e autopercepção de indivíduos em situação de rua em Goiânia-Go. 2016. Orientadora: Marcos André de Matos. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016.

PINHEIRO, Raquel Silva. Epidemiologia do HIV e sífilis em população abrigada/em situação de rua em Goiânia-Goiás. 2017. Orientadora: Sheila A. Teles. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

Aplicabilidade para o SUS

Acredita-se ser extremamente relevante o investimento em estudos epidemiológicos da população de situação de rua (PSR), em especial quando se trata das infecções pelo HIV, hepatites B e C e sífilis, visando à definição de estratégias e meios específicos que viabilizem o acesso desta população aos recursos de saúde. Assim, nossos achados, inéditos para nosso Estado, localizado na Região Central do Brasil, e que possui importante relevância no movimento migratório e imigratório, em particular da PSR, certamente contribuirão para proporcionar ações que aproximem os profissionais da PSR, bem como favoreçer o acesso desses indivíduos aos seus direitos. Infelizmente, as atuais políticas públicas voltadas para a PSR apresentam, na maioria das vezes, um caráter assistencialista e compensatório, não atendendo, verdadeiramente, às necessidades desses indivíduos. Tal fato, muito provavelmente relacionado à inexistência, em nosso Estado, de um estudo com esses indivíduos, e de produção e tradução de conhecimento voltado para o planejamento e elaboração de estratégias para o cuidado e minimização da vulneração dos que têm a rua como local de moradia. Diante de tal contexto, os profissionais que atendem PSR não possuíam modelos de cuidados padronizados, bem como uma rede de assistência consolidada na tomada de decisão na gestão em saúde. Acreditamos que este estudo epidemiológico, mas com intervenção, realizado com parceria academia/serviço/comunidade/movimentos sociais, represente uma alternativa para a tradução de conhecimento que seja realmente aplicável às necessidades da PSR e compromissos do SUS. Espera-se que os nossos achados contribuam para a construção de uma rede de cuidado realmente articulada, com profissionais capacitados e preparados para atender a PSR, levando em consideração a universalização da saúde, com vistas a orientar a construção e execução de estratégias com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), de universalidade, equidade e integralidade, proporcionando visibilidade a este segmento da sociedade, historicamente à margem das prioridades da gestão pública. Por fim, acredita-se que contribuímos na concretização dos marcos legais nacionais, em especial os Eixos Orientadores, Diretrizes e Objetivas da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, objetivos da Política Nacional para a Inclusão Social da PSR e missão do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, concedendo visibilidade às diferenças e reconhecendo que o SUS é para todos e que somos todos iguais, com suas especificidades, para o SUS. Também, subsidiará o fortalecimento das políticas públicas de saúde voltadas para esta população na Rede SUS no estado de Goiás, promovendo a tradução de conhecimento na gestão da saúde pública, da assistência e cuidados à saúde, e da equidade no atendimento em todas as instâncias e âmbitos da rede de Saúde Pública.