Viver ou conviver com HIV/Aids: um desafio para as crianças órfãs da aids.

Edital/Chamamento: 
Pesquisas Científicas - Abr/2002
Número do Projeto: 
676/2002

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Marlene Doring

Instituição

Instituição: 
Universidade de São Paulo, Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (Nepaids).
Parcerias institucionais: 
Universidade de Passo Fundo-RS; Nepaids – Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (USP); Secretaria Municipal de Porto Alegre – Programa Municipal de Políticas de Prevenção e Controle DST/AIDS.
Período de Vigência: 
2002 - 2003
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Com o objetivo de conhecer a proporção de pessoas que faleceram por aids e deixaram crianças órfãs e identificar as características dos órfãos por aids em Porto Alegre, realizou-se um estudo de corte transversal das crianças e dos adolescentes de 0-15 anos, cujos pais faleceram por aids no período de 1998-2001. Os dados foram coletados em inquérito domiciliar, com questionário estruturado. As crianças foram rastreadas a partir das Declarações de Óbitos e registros dos Serviços de Saúde. Participaram do estudo 853 crianças e adolescentes, das quais 50% são órfãos exclusivamente de pai, 29% exclusivamente de mãe e 21% são órfãos duplos. São meninas 52%; 56,5% são negras/pardas e 43% são brancas Vivem com a mãe 40,6%, com os avós 24,5% e 45% vivem separadas de seus irmãos. A maioria dos cuidadores (88,3%) é do sexo feminino. Há um número de órfãos considerável em Porto Alegre e as condições de vulnerabilidade persistem.

Objetivos

Conhecer a proporção de pessoas que morreram em decorrência da aids e que tinham filhos menores de 15 anos; Caracterizar as crianças de 0 a 15 anos de idade, órfãs por aids, residentes em Porto Alegre-RS, segundo variáveis sociodemográficas da criança, dos pais e dos cuidadores atuais; Avaliar a viabilidade de utilizar bancos de dados oficiais (registro de óbitos, assistenciais) para o rastreamento de óbitos por aids.

Materiais e Método

Realizou-se estudo de corte transversal, das crianças e adolescentes de 0-15 anos, cujos pais faleceram por aids no período de 1998-2001, na cidade de Porto Alegre. Os dados foram coletados em inquérito domiciliar com questionário estruturado. As crianças foram rastreadas a partir das Declarações de Óbitos e dos registros dos Serviços de Saúde. Foram considerados os atestados de óbito de indivíduos com 19 anos ou mais, de ambos os sexos, arquivados na CM DST/AIDS do Município de Porto Alegre, cuja causa básica ou associada foi a aids. A entrevista foi feita pelo pesquisador e/ou equipe treinada, mediante a aplicação de um questionário estruturado. Após o consentimento informado, os cuidadores atuais das crianças foram entrevistados em seu domicílio, ou outro local adequado de escolha do entrevistado, sendo assegurados os direitos à privacidade e à confidencialidade dos participantes da pesquisa. Quando havia no domicílio mais de uma criança, filha do caso índice, o entrevistador conduziu uma entrevista para cada criança. Para verificar a associação entre as variáveis, foram utilizados os testes Qui-quadrado e o Exato de Fischer, a um nível de significância de 5%. Utilizaram-se programas estatísticos como o EpiInfo 6bc e Stata 7.0.

Resultados - Parciais ou Finais

A partir dos registros dos atestados de óbitos foram localizados 67,4% dos endereços. Do total de óbitos ocorridos no período, 43% tinham filhos menores de 15 anos. A proporção de órfãos/óbito de adulto foi de 2:1. Participaram do estudo 853 crianças e adolescentes, dos quais 50% (424) são órfãos exclusivamente de pai, 29% (252) exclusivamente de mãe e 21% (177) de ambos os pais. São do sexo feminino 52% (445) e 48% (408) do masculino. Quanto à cor/raça, 43% (369) das crianças e adolescentes são brancos; 34% (288) são pardos; 22,5% (192) são negros; e 0,5% (4) são indígenas. 40,6% das crianças vivem com a mãe, 24,5% com os avós, 11,5% com tios, 5,1%, em abrigos, 45% vivem separadas de seus irmãos, 10% têm HIV/aids. A maioria (40%) ficou órfã entre 5 e 9 anos; 34% com dez anos ou mais; 26% entre 0 e 4 anos. A idade mediana das crianças e dos adolescentes, no momento do óbito paterno, foi 7 anos (min=0,00máx=15,0; P25=4 e P75=10 anos), e no momento do óbito materno foi 8 anos (min=0,01 máx=14,7; P25=5 e P75=11 anos). Com relação aos órfãos em idade escolar, verificou-se que um contingente importante está fora da escola (13%); a maioria (62%) não está freqüentando a série escolar de acordo com a idade; um terço (35%) deles apresentou dificuldade de aprendizagem; mais da metade tem história de uma ou mais reprovações e um em cada quatro órfãos abandonou a escola pelo menos uma vez.
Palavras-Chave: 
HIV. Aids. Órfãos por aids.

Divulgação e/ou Publicações

DORING, M.; FRANÇA JR., I.; STELLA, I.M. Órfãos da aids em Porto Alegre/RS: resultados parciais. In: CONFERÊNCIA ÓRFÃOS AIDS: UM DESAFIO PARA O BRASIL, 1., 2003, Santos.

__. Órfãos da aids em Porto Alegre: resultados preliminares (Resumo). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA - ABRASCO, 7., 2003, Brasília.

__. Factors associated with institutionalization of children orphaned by AIDS in a population based survey in Porto Alegre, Brazil. AIDS, 2005, n.19, suppl 4, p.S1-S5.

__. Aids orphans in southern Brazil: who are they, who are they with and where are they? (Resumo). In: INTERNATIONAL AIDS CONFERENCE, 15., 2004, Bangkok.