Soroconversão do HIV, sífilis e hepatite B em uma coorte de travestis prostitutos da Cidade de São Paulo.

Edital/Chamamento: 
Estratégico
Número do Projeto: 
479/1999

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
João Luiz Grandi

Instituição

Instituição: 
CRT/AIDS – Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Parcerias institucionais: 
.
Período de Vigência: 
1999 - 2001
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Foi realizado um estudo de coorte observacional aberta, desenhado a partir de um levantamento de dados por entrevista de um estudo transversal com prostitutos masculinos, recrutados inicialmente por seus pares. O estudo procurou avaliar se a distribuição sistemática de preservativos de látex e de aconselhamento para práticas mais seguras de sexo neste grupo populacional podem reduzir as taxas de soroconversão da infecção por HIV, sífilis e hepatite B entre travestis que exercem a atividade de prostituição.

Objetivos

Identificar os fatores de risco para a soroconversão do HIV e a sua associação com a freqüência da positividade de sífilis e hepatite B entre travestis prostitutos; Determinar o tempo decorrido entre o ingresso no estudo e a positividade do teste anti-HIV de acordo com as características sociodemográficas; Descrever a associação entre a freqüência da positividade para sífilis e hepatite B de acordo com a soroconversão para o HIV; Analisar a adoção das práticas de sexo seguro, através do número de intervenções educativas realizadas e a quantidade de preservativos de látex distribuídas no período, com as taxas de incidência de sífilis, hepatite B e HIV; Descrever o nível de conhecimento adquirido sobre DST/aids entre os indivíduos ao longo do seguimento.

Materiais e Método

Adotou-se como definição de travesti: indivíduo que se utiliza de roupas femininas e injeção de hormônios e ou silicone para o processo de feminilização para a prática de prostituição de rua. Foi realizado um mapeamento dos locais da prostituição travestida de rua por meio das informações dos próprios entrevistados, procurando-se assim identificar todos os pontos em que ela ocorre, favorecendo o alcance da pesquisa a representantes de todas as áreas geográficas da área metropolitana da Cidade de São Paulo. Optou-se como base de cálculo para este estudo a população de homossexuais masculinos do Projeto Bela Vista de São Paulo, pela falta de estudos de incidência na literatura entre travestis ou com a população de prostitutos masculinos. Assumindo o tamanho do intervalo de confiança (IC) de 10%, o cálculo final foi de uma amostra de 139 indivíduos e, considerando uma perda de sujeitos ao longo do tempo, optou-se por trabalhar com 150 travestis. Critérios para inclusão na amostra: Todos os indivíduos HIV negativos nos últimos 12 meses, que estão cadastrados no serviço de orientação à prostituição masculina do CRT/DST/AIDS, foram convidados a participar do estudo de soroconversão, onde eram oferecidos voluntariamente novos testes para o HIV, VDRL e HbsAg. Também como critério de legibilidade para o ingresso na coorte considerou-se a referência de no mínimo seis meses de atividade de prostituição travestida anterior à procura pelo estudo. A coleta de dados foi realizada de maneira anônima e confidencial, sendo que cada entrevistado recebeu um cartão numérico – senha, para identificação dos testes sorológicos e interligação com o instrumento de coleta de dados (entrevista). A senha foi fornecida no primeiro contato do entrevistado com o entrevistador e tanto a entrevista quanto a coleta de sangue foram realizadas pelo mesmo entrevistador. Todos os exames, quer positivo, quer negativo, foram entregues individualmente, seguidos de orientação. Foi garantido o acompanhamento médico ambulatorial a todos os indivíduos que registraram positividade para HIV, hepatite B e sífilis.

Resultados - Parciais ou Finais

Os travestis acompanhados durante o período do estudo eram adultos jovens, de baixa escolaridade e, em sua grande maioria, imigrantes, com pouco tempo de residência em São Paulo. Iniciaram precocemente a vida sexual ativa e a prostituição; metade da amostra refere parceiro sexual fixo, com os quais mantém relações de maior risco do que com os clientes. Referiram um alto consumo de drogas em geral, mas baixo abuso de injetáveis, e, um grande número de Infecções de Transmissão Sexual/ITS no passado, principalmente sífilis e corrimentos uretrais. A soroconversaão do HIV foi de 6,7% ao longo do tempo. O estudo demonstra que aconselhamento e distribuição de insumos para práticas mais seguras tendem a favorecer uma diminuição das taxas de infecção. Foram explicativas da regressão logística para o HIV: o tempo de prostituição, uso de droga injetável e sífilis pregressa. Em relação à Hepatite B observou-se que a doença encontrava-se em franca expansão neste grupo populacional.
Palavras-Chave: 
HIV. Sífilis. Hepatite B. Travestis.