Um estudo sobre a adoção de práticas sexuais mais seguras entre mulheres que participam de intervenções preventivas com o preservativo feminino.

Edital/Chamamento: 
Estratégico
Número do Projeto: 
430/2001

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Paulo Roberto Telles Pires Dias

Instituição

Instituição: 
Sociedade de Estudos e Pesquisas em Drogadição.
Parcerias institucionais: 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Período de Vigência: 
2001 - 2003
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Mulheres que participam de intervenções preventivas que envolvem o preservativo feminino e o uso do mesmo por um período superior a 4 meses foram convidadas a participar da pesquisa, cujo objetivo era analisar fatores relacionados à adoção de práticas sexuais seguras e à adesão à utilização do preservativo feminino. A amostra de mulheres analisadas foi composta por parceiras de usuários de drogas injetáveis, usuárias de drogas, profissionais do sexo, mulheres soropositivas para o HIV e mulheres que freqüentam serviços de saúde da mulher, em 6 cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Belém e Itajaí). Inicialmente, pretendia-se entrevistar uma amostra de 280 mulheres e 60 homens, utilizando uma metodologia de pesquisa quantitativa e qualitativa, baseada em entrevistas em profundidade e grupos focais. As entrevistas qualitativas seguiram um roteiro com perguntas semi-estruturadas e foram gravadas, transcritas e codificadas para posterior análise. Também foi aplicado um pequeno questionário fechado e feitas anotações sobre o dia-a-dia da pesquisa em um diário de campo. Espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir para melhorar a qualidade das intervenções preventivas para as DST/aids e mostrar a importância do preservativo feminino nestas estratégias.

Objetivos

Analisar a adoção de práticas sexuais mais seguras e a adesão à utilização do preservativo feminino em uma amostra de mulheres composta por parceiras de usuários de drogas injetáveis, usuárias de drogas, profissionais do sexo, mulheres soropositivas para o HIV e mulheres que freqüentam os serviços de saúde da mulher; Analisar os fatores (sociodemográficos, dinâmicas de parceiro, culturais, regionais, etc.) que predispõe ao uso e à adesão ao preservativo feminino e à adoção de práticas sexuais mais seguras; Comparar os diversos grupos estudados em relação à adoção de práticas sexuais mais seguras e adesão ao uso do preservativo feminino; Analisar como um maior poder de negociação e as barreiras à negociação influenciam na adoção de práticas sexuais mais seguras; Identificar o que funcionou ou não na intervenção para cada grupo e identificar como melhorar as estratégias de intervenção; Avaliar como os parceiros sexuais das mulheres influenciam no uso dos preservativos femininos e na adoção de práticas sexuais mais seguras.

Materiais e Método

Propôs-se um desenho de pesquisa não experimental transversal baseado em entrevistas qualitativas em profundidade, realizadas entre mulheres que utilizam o preservativo feminino ininterruptamente há pelo menos quatro meses e seus parceiros sexuais. Perguntas fechadas também foram feitas às participantes da pesquisa. Foram estudados cinco grupos distintos de mulheres, a saber, parceiras de usuários de drogas injetáveis, usuárias de drogas, profissionais do sexo, mulheres soropositivas para o HIV e mulheres que participam da intervenção em postos de saúde. Um desenho mais completo de pesquisa poderia incluir grupos de comparação (por exemplo, mulheres que não aderiram ao uso dos preservativos femininos); porém, devido às restrições logísticas, além de outras, preferiu-se não incluir esses grupos no atual estudo. As fichas padronizadas, utilizadas no acompanhamento da intervenção, foram usadas como importante fonte de informação adicional para a pesquisa. Procurando contemplar a diversidade existente nos cinco grupos estudados, considerou-se inicialmente entrevistar 10 mulheres de cada grupo. Em Belém, como não é desenvolvido o trabalho com mulheres de UDI – Usuários de Drogas Injetáveis, e mulheres UD – Usuários de Drogas, apenas foram entrevistados três grupos de mulheres. Dessa forma, planejou-se uma amostra inicial de 280 mulheres e 60 parceiros sexuais (10 por cidade) nas 6 cidades do estudo. Também foram registrados outros aspectos relativos ao trabalho de campo. Para tal, preencheu-se um diário de campo onde eram registrados aspectos relativos ao trabalho de campo, seu ambiente e interações com a comunidade. Também foi dada ênfase às observações e outras intercorrências durante a entrevista, em especial em relação a situações não abordadas no roteiro e que dependiam de uma observação atenta do entrevistador, tais como a forma como a entrevista foi conduzida, ocorrências e o “clima” da mesma, opiniões sobre o entrevistado, etc. As entrevistas foram gravadas e tiveram uma duração aproximada de 60 minutos.

Resultados - Parciais ou Finais

O estudo teve como objetivo entender os fatores associados com o uso consistente do preservativo feminino (por mais de 4 meses) como um método de prevenção às DST e gravidez. Participaram de entrevistas qualitativas e quantitativas 255 mulheres que usaram o preservativo feminino e 29 homens cujas parceiras o tinham usado. As entrevistas procuraram analisar os fatores que influenciavam o uso bem sucedido e a adoção do preservativo feminino. O estudo foi feito em seis cidades brasileiras, representando quatro regiões do País, entre cinco grupos de mulheres (profissionais do sexo, usuárias de drogas, parceiras de usuários de drogas injetáveis, soropositivas para o HIV e pacientes atendidas em postos de saúde que utilizavam o preservativo feminino) e um grupo de homens (parceiros de mulheres que usavam o preservativo feminino). Os dados qualitativos foram analisados de forma a identificar as estratégias que os usuários do preservativo feminino consideravam importantes para a aceitabilidade e a adoção deste método de prevenção. Quatro temas primários foram identificados: “Assistência” pessoal (aconselhamento) durante a fase inicial de adoção, baseada na discussão sobre os principais problemas e desafios apresentados pelo uso do preservativo feminino; segurança; prazer; e aumento do poder de negociação para o sexo seguro. O relato do uso alternado de ambos os preservativos (masculino e feminino) foi bastante freqüente entre os entrevistados. Para aproximadamente um terço da amostra, o preservativo feminino era o preferido e, para alguns participantes, era o único método de prevenção utilizado para a prática do sexo seguro. Os resultados deste estudo sugerem que, para se alcançar a adoção e o uso consistente dos preservativos femininos, as intervenções devem oferecer estratégias explícitas e continuadas aos potenciais usuários do método.
Palavras-Chave: 
Preservativo feminino.Prevenção ao HIV. Mulheres. Populações vulneráveis.

Divulgação e/ou Publicações

TELLES, P.R. Estudo do Preservativo Feminino para o PN-DST/AIDS do Ministério da Saúde, entre 2002 e 2003.

TELLES, P.R.; SOUTO, K. Avaliando práticas de sexo seguro entre mulheres que usam o preservativo feminino. In: FORO 2003 – FORO EN VIH/SIDA/ITS EN AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 2., 2003, Habana.

__. Evaluating safer sex practices among women using the female condom. In: INTERNATIONAL AIDS CONFERENCE, 14., 2002, Barcelona.

__. Preventing Sexually Transmitted Diseases among Injecting Drug Users (IDUs) and Their Sexual Partners. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE REDUÇÃO DE DANOS, 2002, Barcelona.

TELLES, P.R.; SOUTO, K.; PAGESHAFER, K. Longterm female condom use among vulnerable populations in Brazil. Trabalho submetido à revista “AIDS and Behavior”.

Apresentação em diversos seminários regionais (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, etc.).