Pesquisa de avaliação da efetividade das ações de prevenção em DST/HIV/AIDS dirigidas às profissionais do sexo, em três regiões brasileiras.

Edital/Chamamento: 
Estratégico
Número do Projeto: 
061/2000

Pesquisador(es)

Pesquisador(es) Responsável(eis): 
Kátia Maria Guimarães de Andrade

Instituição

Instituição: 
Universidade de Brasília, Núcleo de Estudos em Saúde Pública – Nesp.
Parcerias institucionais: 
Fundação Hemocentro de Brasília; Laboratório de Retrovirologia da Universidade Federal de São Paulo; Núcleo de Estudos da Prostituição – NEP-RS; Grupo Dignidade (Curitiba-PR); Universidade do Vale do Itajaí (Itajaí­-SC); Mulher e Saúde - Musa, Belo Horizonte-MG; Fórum de ONG do Estado do Rio de Janeiro; Associação de Prevenção à Aids - Para, São Luiz-MA; Associação de Prevenção à Aids - Amazonas , João Pessoa-PB; Associação Sergipana de Prostitutas - ASP, Aracajú­-SE; Coordenações Estaduais e/ou Municipais de DST/AIDS das Unidades da Federação - UF, e Municípios dos sítios investigados; Centros de Testagem e Aconselhamento das UF e Municípios investigados.
Período de Vigência: 
2000 - 2002
Situação: 
Concluída

Introdução e Justificativa

Este estudo teve como objetivo dimensionar e qualificar as ações de informação, educação e comunicação em saúde, implementado por organismos governamentais e organizações não governamentais – ONG, junto à população de mulheres profissionais do sexo, voltadas para a redução da infecção pelo HIV e outras DST. A pesquisa buscou analisar as estruturas e os processos das intervenções, investigar as situações de vulnerabilidade das mulheres profissionais do sexo e a repercussão, entre elas, dessas ações, em termos de percepção de risco, mudança de atitudes, individuais e coletivas, e efetividade na adoção da prática de sexo seguro.

Objetivos

Dimensionar e qualificar o resultado das ações de informação, educação e comunicação em saúde, implementadas por organismos governamentais e ONG, em termos da redução da incidência da infecção pelo HIV e outras DST, da adoção de práticas sexuais e/ou de uso de drogas de forma segura e de empoderamento, direcionados a profissionais do sexo, mediante a comparação de grupo submetidos e não submetidos à intervenção; Descrever e analisar a estrutura e o processo de intervenção educativa implementada pelos projetos de prevenção das DST e aids voltados às profissionais do sexo, em suas estratégias, métodos, modalidade e veículos; Conhecer e analisar as situações de vulnerabilidade das profissionais do sexo, inseridas e não inseridas em projetos específicos de intervenção educativa, com relação à infecção pelo HIV e outras DST; Conhecer a repercussão dos projetos de intervenção na população-alvo, em termos de percepção de risco, mudança de atitudes individuais e coletivas, além do grau de empoderamento, em grupos com e sem intervenção educativa; Estabelecer uma linha de base para estudo seqüencial de impacto mediante a execução de inquéritos seriados com o oferecimento de vários exames, de modo a permitir a comparação da prevalência de HIV, sífilis, vírus das hepatites B e C e incidência do HIV, em grupos expostos e não expostos à intervenção educativa.

Materiais e Método

A pesquisa utilizou métodos quantitativos e qualitativos. Como instrumento para a abordagem quantitativa, foi utilizado um inquérito sorológico para HIV, sífilis e hepatites B e C, associado a um questionário CAP – conhecimentos, atitudes e práticas. Para a abordagem qualitativa, foram empregadas as técnicas de grupo focal e entrevistas individuais em profundidade. Os sujeitos do estudo eram compostos de mulheres profissionais do sexo com mais de 18 anos, há pelo menos seis meses trabalhando no comércio sexual. No grupo de intervenção, foram incluídas as profissionais do sexo que recebiam ações de intervenções dos projetos selecionados, pelo menos há seis meses. O grupo de comparação foi formado por profissionais do sexo que nunca receberam intervenção similar. Todas as mulheres, para serem incluídas na pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra para realização da investigação sobre conhecimento, atitudes e práticas foi composta por 167 mulheres, por projeto, do grupo que sofre intervenção; 167 mulheres, por projeto, para o grupo de comparação. No caso específico do Rio de Janeiro, foram 250 mulheres, profissionais do sexo, que não receberam intervenção, para estabelecimento de linha de base. Foram realizados seis grupos focais por sítio, mantendo a média de dez participantes por grupo. Foram realizadas seis entrevistas individuais em profundidade por sítio.

Resultados - Parciais ou Finais

A idade média das profissionais do sexo é de 20 a 29 anos, representando 47% dessa população. Em segundo lugar, estão as mulheres entre 30 e 49 anos (41%). Cerca de 8% das mulheres têm entre 17 e 19 anos. Quanto à escolaridade: 67% das mulheres não completaram o 1º grau e 8% nunca estudaram. Renda média: 60% das profissionais ganham entre 1 e 4 salários mínimos; 7% ganham menos de 1 salário mínimo e 14% recebem 8 salários mínimos ou mais. A renda é menor no Nordeste: 17% ganham menos de 1 salário mínimo.Tempo de profissão: 57% estão na profissão há menos de 5 anos, 20% têm entre 5 e 9 anos de trabalho e 23% têm 10 anos ou mais na profissão. Freqüência de programas: 65% das mulheres fazem entre 1 e 10 programas semanais; 25% fazem de 11 a 30 programas por semana e 10% mais de 30 programas por semana. Sobre DST e aids, o uso do preservativo com o cliente (últimos 6 meses): no geral, 67% das mulheres fazem uso consistente do preservativo com seus clientes. Mas o consumo é maior entre as mulheres acessadas por projetos de prevenção (74%) do que entre as mulheres que não recebem informações diretamente (60%). Uso do preservativo com o companheiro (últimos 6 meses): 20% das mulheres usam preservativos com seus parceiros. A freqüência de uso do preservativo, nesse caso, é a mesma das mulheres de uma forma geral, segundo pesquisa sobre o Comportamento Sexual do Brasileiro, realizada em 1999. Mais uma vez, a prevenção é maior entre as mulheres acessadas por projetos: 24% contra 16% das mulheres que não têm acesso direto às intervenções. Teste do HIV: 43% das profissionais fizeram o diagnóstico do HIV. A média de diagnóstico da população brasileira é cerca de 20%. O número de testes sobe para 50% entre as prostitutas que participam das intervenções e cai para 37% entre as que não participam. Consultas de rotina em unidades de saúde: 40% das profissionais fazem exame ginecológico preventivo. Média que sobe para 46% entre as que participam de projetos, contra 35% das mulheres não acessadas. Sorologia para o HIV: A prevalência do HIV entre as profissionais do sexo foi de 6%. Estudo realizado em São Paulo, em 1996, mostrou um índice três vezes maior: 18%. A prevalência do HIV entre profissionais do sexo é menor que o encontrado, por exemplo, entre presidiárias de Minas Gerais, em 1998 (15%). Também é menor que entre homossexuais (11%, em São Paulo, em 1997). A taxa de prevalência entre pro-fissionais do sexo no Brasil é menor do que no Canadá (15%), China (10%) e Tailândia (19%) e está acima da Índia (5%) e Argentina (4%). A prevalência do HIV na população brasileira é de 0,65% e, entre mulheres, 0,48%.
Palavras-Chave: 
Avaliação. Efetividade. Educação em saúde. Prevenção. Profissionais do sexo. Prevalência. Incidência.

Divulgação e/ou Publicações

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST/AIDS. Avaliação da efetividade das ações de prevenção dirigidas às profissionais do sexo, em três regiões brasileiras. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.

GUIMARÃES, K. Apresentando dados parciais da Pesquisa de Avaliação da Efetividade das Ações de Prevenção em DST/HIV/Aids Dirigidas às Profissionais do Sexo, em Três Regiões Brasileiras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DAS DST E AIDS, 4., 2001, Cuiabá.

__. Characterization of health education practices addressed to female Commercial Sex Workers – CSW, in Brazil. In: INTERNATIONAL AIDS CONFERENCE, 14., 2002, Barcelona. Proceedings... Barcelona: International AIDS Society, 2002. p.176.

__. Comercializando fantasias - A representação social da prostituição, dilemas da profissão e a construção da cidadania. Revista Estudos Feministas, 2006 (no prelo).

__. Nas casas, nas esquinas e nos bares da vida: um estudo sobre práticas educativas para a prevenção das DST/HIV/Aids, dirigidas às prostitutas e desenvolvidas por ONG de movimentos sociais. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, 2005.