Campanha de Carnaval estimula adolescentes a usarem camisinha - 2003

Campanha de Carnaval estimula adolescentes a usarem camisinha - 2003
Data da campanha: 
2003

 

A campanha de Carnaval que o Ministério da Saúde começa a veicular, a partir deste domingo, nas principais emissoras de TV e rádios comerciais de todo o país, é voltada para a população jovem, principalmente adolescentes do sexo feminino, nas quais os novos casos de aids vêm superando as ocorrências entre os meninos de 13 a 19 anos de idade. Protagonizada pela cantora Kelly Key, a mensagem procura estimular as jovens que iniciam a vida sexual a tomarem para si a responsabilidade da prevenção à aids, exigindo que o parceiro use o preservativo e não tendo vergonha de comprá-lo ou carregá-lo na bolsa. 

O filme mostra a cantora entrando numa farmácia e perguntando pelos preservativos aos vendedores, seguido do slogan: "Mostre que você cresceu e sabe o que quer. Neste Carnaval, use camisinha". Além do filme, a cantora gravou um jingle para rádios com uma versão de sua mais conhecida música, "Baba Baby", cujo sentido é: "Sem camisinha, apenas olha e baba, baby". Cartazes e outdoors são as outras peças da campanha. As coordenações estaduais de DST/Aids receberão o material a partir de hoje e ficarão responsáveis pela sua distribuição. Além das peças publicitárias, mais 9 milhões de preservativos, fora o quantitativo de 19 milhões distribuídos para as 27 unidades da federação a cada mês, já estão a caminho. Esses preservativos serão usados em ações específicas entre os foliões, a critério local e das Organizações não Governamentais que trabalham na prevenção às DST/aids. 

Por que uma campanha para jovens 

Os últimos dados sobre a aids revelam que, desde 2000, está ocorrendo uma inversão na relação da doença entre homens e mulheres na faixa etária de 13 a 19 anos de idade, com um número maior de casos em adolescentes do sexo feminino. Em 2000, foram 191 casos em meninas de 13 a 19 anos contra 151 casos em rapazes da mesma idade. Em 2001, foram notificados 152 casos de aids em adolescentes do sexo feminino, contra 91 em adolescentes homens. Entre os jovens de até 24 anos, essa relação homem/mulher já está igual, tendendo para as mulheres superarem os homens também. 

Dessa forma, os novos números da aids confirmam uma maior "feminização" da epidemia ano a ano, apontando as mulheres como a população na qual a epidemia de aids mais cresce no país. Enquanto no período de 1980-1990 havia uma média de 6,5 casos de aids em homens para cada caso observado em mulheres, no período entre 1991-2001 a relação média é de 2,4 casos em homens para cada caso na população feminina. A tendência é um avanço da epidemia para as classes menos favorecidas; daí a escolha da cantora Kelly Key para protagonizar a campanha, uma vez que ela atinge segmentos mais populares da juventude brasileira. 

Também, segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde à socióloga Ana Camarano, a primeira relação sexual acontece, em média, aos 15 anos de idade (homens: 14,5; mulheres: 15,2).  

As meninas, geralmente, têm suas primeiras relações sexuais com parceiros mais velhos que elas.

O abandono do uso do preservativo está relacionado com a presença da afetividade e do entendimento do casal de que estão vivendo um relacionamento de confiança ("estável").

  • As meninas associam o preservativo à prevenção da gravidez e os meninos à prevenção da aids e de outras DST.
  • Entre os 16 e 19 anos, as mulheres têm mais relações sexuais que os homens da mesma idade por estarem em relacionamentos considerados "estáveis".
  • Nessa mesma idade, os homens têm mais parceiras. A relação estável para o homem acontece mais tarde.  
  • Proporção de jovens com idades entre 15 e 24 anos que descontinuaram o uso do preservativo por "conhecerem" o parceiro ("relação estável"): homens (72,6%); mulheres (43,8%)

Números da aids no país (dados até março de 2002)

Total de casos notificados desde 1980: 237.588

Homens: 172.228

Mulheres: 65.360

Tendência geral da epidemia: redução de 15% dos casos a partir de 1999

Aids em jovens e adolescentes

Total de casos notificados em jovens de 13 a 24 anos de idade desde 1980: 29.613 casos

Meninos: 19.229 casos 

Meninas: 10.384 casos

Aids em jovens e adolescentes 

Total de casos notificados em jovens de 13 a 24 anos de idade desde 1980: 29.613 casos

Meninos: 19.229 casos 

Meninas: 10.384 casos

Detalhe: desde 2000, as novas ocorrências nessa faixa etária têm sido maiores em mulheres do que em homens.

2000: 1.046 casos masculinos contra 1.058 femininos

2001: 714 casos masculinos contra 771 femininos

2002: 82 casos masculinos contra 75 femininos

2003 (até março): 82 casos masculinos contra 75 femininos 

Avaliação da Campanha de Carnaval de 2003 - 27/06/2003
Antes mesmo de ser lançada nacionalmente, a campanha de Carnaval causou polêmica em todo o Brasil. Primeiro, porque o Ministério da Saúde articulou erroneamente com as organizações não governamentais e, segundo, porque Kelly Key tornou-se alvo de alguns ativistas da sociedade civil de luta contra a aids, sob a alegação de que a cantora do "baba baby" não possuía perfil para falar com as jovens brasileiras e que suas músicas incitavam "desrespeito a relações amorosas e sexuais". 

Passados quatro meses, a Coordenação Nacional de DST e Aids, do Ministério da Saúde, divulga relatório sobre os resultados da pesquisa de opinião pública que avaliou a campanha de Carnaval 2003. 

Foram entrevistadas 1.006 jovens, de todas as classes sociais, em 86 municípios brasileiros. Dessas, 81% tiveram acesso à campanha pela televisão e o índice de recall espontâneo foi bastante significativo, já que 44% das jovens quando questionadas se lembravam de algum anúncio de incentivo ao uso da camisinha mencionaram a protagonista da campanha, Kelly Key, e as frases por ela veiculadas. 

Outro fator positivo é que 28% delas entenderam a mensagem do comercial como incentivo ao uso do preservativo na prevenção da aids e outras 24% como incentivo para a compra de camisinha pelas mulheres. Isso demonstra que a mensagem central do anúncio (uso da camisinha para prevenção da aids e outras DST) foi entendida por seu público-alvo: meninas de todas as classe sociais, dos 13 aos 19 anos. 

A pesquisa demonstrou ainda que metade das jovens gostou muito da campanha passada na televisão, classificando-a como excelente ou muito boa. E apenas 15%, que pertenciam às classes de maior renda, A e B, criticaram o anúncio, considerando-o razoável, ruim ou péssimo. 

Entre as diversas questões, perguntou-se a elas o motivo que as levaram a classificar a campanha de Carnaval como excelente, muito boa, péssima ou ruim. Para a maioria, um dos principais argumentos é que ela conscientiza, previne, alerta e lembra que a camisinha deve ser usada para a prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis. Para outra parte das entrevistadas, serviu para conscientizar a população a usar o preservativo e, por fim, outras disseram que serviu para incentivar a prevenção contra a aids, valorizando, nessa hora, a presença da cantora Kelly Key, principalmente em relação ao anúncio da televisão. 

Relevante também é seu papel como estímulo às discussões sobre o uso da camisinha. Das entrevistadas, 25% disseram ter ouvido discussões sobre o anúncio da TV e 27% relataram tê-lo discutido com alguém. Mais ainda, as pessoas com quem mais comentaram o anúncio foram amigos (45%), colegas da escola (40%) e parentes (24%). 

Ao final da pesquisa, 84% das entrevistadas acharam que a campanha reforçou a ideia de responsabilidade pelas mulheres na compra de preservativos e de seu poder diante da decisão de usar a camisinha com seus parceiros, assimilando, dessa forma, uma das mensagens mais importantes da campanha. 

Mesmo com tanta discussão acerca da figura de Kelly Key e da campanha, os resultados da avaliação mostram que ela atingiu seu objetivo, que a mensagem foi apreendida por seu público-alvo e, sobretudo, que prevenção não segue padrões sociais.