Jacqueline Rocha Côrtes
Mãe e esposa dedicada e comprometida, que deseja sempre o melhor para seus filhos e que tem uma vontade enorme de concretizar uma porção de projetos em sua vida. Assim é “Jacque”, como gosta de ser chamada. Uma mulher transexual que vive com aids há 24 anos e meio e que travou e trava inúmeras lutas por dignidade e direitos. Ela se faz respeitar por ser quem é; exerce sua cidadania.
Quando Jacque enxergou a dimensão de sua situação, buscou apoio em grupos de ajuda mútua. “Foi quando eu saí do meu umbigo e descobri que a aids era um problema do mundo e não somente meu. O isolamento acaba com uma pessoa. Aí é que começa o entendimento mais ampliado e, consequentemente, uma aceitação de si mesma”.
Porém, no momento em que soube de seu diagnóstico, ela se viu em um filme de terror, devido às condições de tratamento daquela época. Para se ter uma ideia, a dificuldade em 1994 era tamanha que Jacque tomava 28 comprimidos por dia.
Por mais que a quantidade de remédios fosse grande, eles eram necessários para fortalecer o organismo. E assim aconteceu. As células de defesa subiram e a carga viral baixou. “A partir desse momento, eu nunca mais deixei de tomar os medicamentos. Foi então que eu montei uma estratégia que vale também para qualquer pessoa que se descubra HIV+: combinei com meu vírus que ele só viveria seu estivesse viva, pois se eu morresse ele também morreria. Nisso se vão 24 anos e meio de vida com ele!”.
Para Jacque, a adesão ao tratamento para o HIV passou, primeiramente, por um processo de autoconhecimento. “Antes de aderir ao tratamento, você deve aderir à sua própria aids. É aceitar essa condição e não brigar contra.
A adesão deve ser influenciada por diversos fatores, como uma vida saudável, boa alimentação, vida mental minimamente boa,
inclusão, acesso aos equipamentos públicos e condições básicas de vida como comer, ter água para beber, morar, trabalhar, estudar, ter lazer, participação social, sonhos e projetos”.
Com o estigma, a discriminação e o preconceito, tudo se torna mais difícil. A adesão ao tratamento fica comprometida. É preciso lutar diariamente por uma sociedade mais respeitosa e inclusiva. Esclarecer as pessoas. O HIV e a aids não podem ser mais um tabu. Estão aí, existem há mais de 35 anos.
Ter por perto a família, marido, filhos e amigos – são essas e outras questões que fazem Jacque mais forte e são a sua alavanca para viver. “Eu decidi seguir em frente. Escolha o tratamento você também”.