Beatriz Pacheco
Essa “velhinha folgada”, ou “HIVó”, como Beatriz Pacheco costuma se chamar, tem 70 anos, é advogada aposentada, tem cinco netos e um bisneto e vive com HIV há 25 anos, desde o tempo em que ainda se dizia que ter HIV era ter decretada sua sentença de morte.
Era um dia lindo de sol quando Beatriz recebeu seu diagnóstico. Nessa época, ela estava em seu terceiro casamento e Carlos era o grande amor de sua vida. Ela chegou em casa, então ligou para ele e disse: “Carlos, meu exame deu positivo." "Estou indo para casa”, ele respondeu. Quando ele chegou, ela pensou que ele lhe daria um abraço e uma frase do tipo: “Isso vai passar”.
Mas o nervosismo era tamanho que seu esposo a chamou de assassina. “Quem estava com HIV era eu. Mas naquela época as pessoas achavam que simplesmente tocar em outro transmitia o HIV”.
O marido de Beatriz também fez o exame e, naquela época, o diagnóstico demorava cerca de 90 dias. “Ele chegou em casa e disse para eu me arrumar, pois nós iríamos sair. Começamos a caminhar, na rua, e eu vi que ele estava chorando. Naquele momento, ele puxou o exame e vi que era negativo”.
Nesse mesmo dia, Carlos fez dois pedidos a Beatriz. Ele atuava na Delegacia do Trabalho e estava produzindo um seminário sobre saúde do trabalhador vivendo com HIV. “O primeiro pedido foi que eu fizesse a abertura do evento falando sobre o assunto e o segundo, que eu nunca me escondesse. Ele me disse: Vamos gritar para o mundo que o HIV é para qualquer pessoa. E eu nunca me escondi, porque esse homem sempre esteve ao meu lado. Ele e meus quatro filhos, parceiros nessa luta”.
Um dos momentos mais felizes da vida de Beatriz foi saber que não havia infectado seu esposo. Ao mesmo tempo, as incertezas vieram em sua mente. Chegou a pensar que
“aquele homem maravilhoso, aquele homem que eu amava, agora iria me deixar”.
No entanto, ele nunca a abandonou e Beatriz aderiu ao tratamento. Com os novos medicamentos, ela ficou indetectável em 1999, depois de apenas três anos de tratamento. “Ano que vem eu tenho de fazer uma festa. Em 2019, eu completo 20 anos de carga viral indetectável. Por isso, quem puder não se esconder, vale a pena. Escondidos criamos monstros e vamos assumindo a marginalidade que a sociedade quer nos impor”.
Por fim, Beatriz afirma que é possível, sim, viver com HIV e manter a rotina comum, e ser feliz, apesar do vírus. “O HIV é apenas um detalhe em nossa vida. E assim é que deve ser. Eu mantenho o sorriso. Eu me cuido, eu me trato”, finaliza.