Rafaela queiroz
Rafaela tem 27 anos e essa jovem psicóloga nasceu com HIV, embora a descoberta tenha ocorrido quando ela tinha apenas dois anos de idade. Rafuska, como gosta de ser chamada, começou seu tratamento aos quatro anos, no Hospital de Referência do Rio de Janeiro. Durante esse processo, foi adotada pelos tios, pois perdeu seus pais biológicos, que também lutavam contra a aids.
A infecção de Rafaela foi descoberta quando seu pai adoeceu. Na época ainda não havia tratamento, mas ela fazia o acompanhamento no hospital. A jovem possui uma irmã mais velha que não contraiu o HIV e, assim, ela pôde ter a atenção integral dos tios nos cuidados necessários a uma pessoa vivendo com HIV desde o nascimento, ou seja, por transmissão vertical.
Sua infância foi repleta de carinho e atenção por parte dos seus pais adotivos. Eles não a privavam das rotinas normais de uma criança; apenas tomavam alguns cuidados para que ela pudesse crescer de forma saudável, como qualquer outra criança em formação. “Não havia diferença no tratamento dado a mim e à minha irmã e, por isso, não tive aquela questão de sofrer ou ficar marcada com o HIV durante minha vida. Sempre foi um crescimento de forma positiva”.
Rafaela declara que nunca teve noção sobre o que é estar indetectável, pois ainda não se aplicava esse termo à época. “Sempre fui uma pessoa curiosa e busquei as informações de que necessitava para iniciar o tratamento. Desde então, estou indetectável há nove anos”.
Por mais que sempre tenha vivido em torno dessa temática, Rafaela nunca havia se sentido confiante para tratar do assunto abertamente com as pessoas. Ao perceber que o HIV era parte integral de sua vida e que a verdade era a melhor opção, decidiu expor sua realidade.
"Percebi que aquilo era tão parte de mim que não fazia mais diferença se as pessoas aceitassem ou não minha particularidade. Então me expus."
"Primeiro foi na faculdade, quando revelei ser soropositiva na última aula, em minha apresentação final de curso. Me senti leve, como se não tivesse mais uma vida dupla”.
Hoje Rafaela lida com sua condição abertamente e diz ter conseguido levar sua vida para além do HIV. Estar indetectável deixou seu quadro de saúde mais forte e a ajudou a ampliar seus horizontes. “Faço planos, tenho projetos e fico feliz em saber que meu vírus não é transmissível”.
“A construção do estar indetectável vai muito além de tomar a medicação.
É a soma das coisas positivas que acontecem na nossa vida, não só de relacionamento, mas de acolhimento, de amizade, de família, de sexualidade, de outras coisas.”