Ariadne Ribeiro
Mulher trans, guerreira e mãe. Assim podemos definir Ariadne Ribeiro, que escreveu mais uma página do livro de sua vida, lutando contra as barreiras impostas pelo preconceito, as drogas, o diagnóstico de HIV e as desilusões. Mas ela é também a mulher forte que passou por todos esses desafios, e hoje é a “mão amiga” que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade e dependentes de substâncias psicoativas.
Ariadne percebeu que era uma mulher aos 13 anos de idade. À época, sua mãe não compreendia e seu padrasto não aceitava sua identidade de gênero, o que fez com que ela saísse de casa.
Aos 18 anos, depois de ter perdido a avó, ela foi estuprada e descobriu que havia contraído o HIV.
"Levei um choque. Passei por um turbilhão de coisas e só atentei mesmo para o HIV quando estava com 42 quilos e um quadro de tuberculose”, diz.
Procurou proteção nos braços de uma pessoa que julgava ser alguém que cuidaria dela e foi vítima de violência doméstica. O homem com quem viveu sete anos, apesar de tê-la ferido física e psicologicamente, também lhe proporcionou o bem maior de sua existência, seu filho. “O maior benefício da relação foi a oportunidade de me tornar mãe”. Com 30 dias de relacionamento, ele a apresentou ao Bruno, seu filho, que tinha dois anos, e foi uma grande motivação para que Ariadne largasse o vício. “Cuidei do Bruno até os nove anos e não aceitei o papel de ex madrasta. Meu filho agora está com 17 anos e tenho com ele essa relação materna até hoje”. Ela diz sentir um orgulho muito grande por ter aceito esse papel – o que também a ajudou a provar na justiça sua necessidade de alteração de registro, pois na época eram necessários laudos e provas da vivência desse papel de mulher, mesmo após a realização de cirurgia.
Ariadne continuou o tratamento para o HIV e hoje mantém a carga viral indetectável. Conheceu então um homem que a estimulou a seguir em frente nos estudos. Essa relação sorodiferente, baseada no respeito e na admiração, foi crucial para torná-la forte e segura. E mesmo após o falecimento do companheiro, finalizou uma especialização, recebeu título de mestre e está terminando o doutorado do Programa de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp.
Ela trabalha com pessoas dependentes de substâncias psicoativas, em especial com populações-chave, e criou uma estratégia inovadora para atender pessoas trans e HSH usuários de substâncias, por estarem diretamente ligados à sua trajetória de vida.
“Atuar com pessoas em um ambiente tão propício às infecções sexualmente transmissíveis e ao HIV e, em decorrência da discriminação, com difícil acesso aos serviços de saúde, me dá a certeza de que estou contribuindo para que minha história tenha significado”, conclui.